Desde que Santa Catarina contribuiu com 75% de seus votos para a vitória do presidente Jair Bolsonaro (PSL) diversas bolsas de aposta foram feitas sobre a participação de nomes do Estado em seu governo. Nenhuma delas previu que o Paulo Bauer (PSDB) ganharia uma sala no quarto andar do Palácio do Planalto. Depois de amargar um quinto lugar na tentativa de reeleição para o cargo de senador, o tucano foi confirmado nesta quinta-feira – último dia de mandato – como secretário especial da Casa Civil para o Senado Federal.
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A especulação já havia surgido em janeiro e vinha na linha do que já antecipara o ministro Onyx Lorenzoni (DEM) de aproveitar ex-parlamentares para a interlocução com o Congresso. Ex-líder da bancada do PSDB, o figurino cabia em Bauer – apesar da rejeição sofrida em uma dos Estados mais bolsonaristas do país. O convite mantém o tucano na ribalta, ainda não se sabe com que grau de exposição.
É impressionante a capacidade de Bauer de sobreviver na arena política. Ainda jovem, no início dos anos 1980, o filho do ex-prefeito Victor Bauer, de Jaraguá do Sul, começou a trilhar sua carreira como vice-presidente da antiga Erusc, companhia estadual de eletrificação rural. Em 1986, a primeira vitória nas urnas, eleito deputado estadual. Desde então é um dos protagonistas do jogo político catarinense.
Foi eleito deputado federal em 1990 e 1994, com passagem pela Secretaria de Educação no governo de Vilson Kleinübing. Foi eleito vice-governador na chapa de Esperidião Amin em 1998 e voltou à Câmara em 2002. Em 2006, o primeiro insucesso eleitoral: ficou com a primeira suplência de deputado federal. Mesmo assim, continuou no jogo – voltando ao comando da Educação pelas mãos do então governador Luiz Henrique da Silveira. Quatro anos depois, quando enfrentava dificuldades regionais para consolidar nova candidatura a deputado federal, acabou escolhido para disputar o Senado em dobradinha com LHS e conquistou a segunda vaga.
Com a vaga nobre em Brasília, Bauer mirou o governo do Estado. Ficou em segundo lugar em 2010, derrotado em primeiro turno por Raimundo Colombo. Levou até o limite sua pré-candidatura ao governo ano passado, mas acabou candidato à reeleição na aliança com o MDB de Mauro Mariani. Os desgastes pela votação contra o afastamento do colega Aécio Neves (PSDB) do Senado e o inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal para investigar suposta propina de R$ 11,5 milhões da Hypermarcas nas eleições de 2014 acabaram prevalecendo – somados à onda de renovação política que atingiu Santa Catarina em cheio.
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O inquérito no STF está pronto para ser analisado pelo ministro Edson Fachin. Resta saber se a perda do foro privilegiado fará o caso mudar de mãos, atrasando o avanço do processo. Em todo caso, Bauer recebe uma mão estendida de onde menos se esperava. Na nota em que fala sobre o convite aceito, o tucano lembra a amizade de 15 anos com o ministro Lorenzoni e a convivência com Bolsonaro durante quatro mandatos de deputado federal.