As urnas de Joinville e Blumenau, as únicas cidades catarinenses com disputa de segundo turno nas eleições 2020, fizeram mais do que confirmar os prognósticos e pesquisas eleitorais. As vitórias de Adriano Silva (Novo) e Mário Hildebrandt (Podemos) trazem novos personagens e partidos para o primeiro time do poder em Santa Catarina, mas também representam um olhar dos eleitores joinvilenses e blumenauenses para suas tradições políticas.
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A tradição em Blumenau é permitir aos prefeitos que concluam seus projetos. A cidade que neste domingo reelegeu Hildebrandt com 72% dos votos fez o mesmo com todos os prefeitos que disputaram a reeleição desde que essa possibilidade passou a existir. Foi assim com Décio Lima (PT) em 2000, com João Paulo Kleinübing (DEM) em 2008, com Napoleão Bernardes (PSDB na época, hoje PSD) em 2016.
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Eleito vice de Napoleão, Hildebrandt primeiro herdou o cargo com a renúncia do titular e agora o recebe das mãos da ampla maioria dos blumenauenses. Beneficiado pela tradição da cidade de dar continuidade ao trabalho dos prefeitos em 2008, Kleinübing agora é vítima dela. O blumenauense gosta da continuidade.
Por sua vez, Joinville fez uma aposta. Por mais que se possa vincular a vitória de Adriano Silva à tradição do eleitor joinvilense de votar em empresários para comandar a cidade, essa condição não foi o vetor da grande surpresa das eleições municipais em Santa Catarina. O prefeito eleito não traz o perfil do sisudo empresário tradicional joinvilense, tão bem encarnado em Udo Döhler (MDB), que encerra seu período de oito anos na prefeitura com baixa popularidade e escondido no primeiro turno pelo candidato que apoiou, Fernando Krelling (MDB).
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Adriano venceu por ser diferente, pela promessa de romper as práticas da política tradicional. De camiseta laranja, com militância engajada e regras internas que dificultam composições e alianças, o Novo herdou a raia dos outsiders que inicialmente parecia destinada a uma candidatura bolsonarista. No segundo turno, Darci de Matos (PSD), em sua terceira tentativa de comandar Joinville, pareceu velho, antiquado, político demais.
Isso talvez não fosse problema se a cidade que abriga o maior eleitorado do Estado não vivesse justamente uma entressafra de lideranças políticas. Desde a morte de Luiz Henrique da Silveira (MDB), em 2015, Joinville perdeu peso na política do Estado. Não há hoje entre os políticos da cidade alguém que possa naturalmente liderar uma eleição para o governo do Estado, por exemplo. O apequenamento de lideranças locais produziu uma eleição com 15 candidatos no primeiro turno, em que a principal aposta dos dois projetos mais estruturados – Darci e Fernando Krelling (MDB) – era a rejeição do adversário. Caminho propício para que o eleitor buscasse outra alternativa – e quem melhor vestiu essa camisa, laranja, foi Adriano Silva.
De certa forma, também, era a única candidatura que faria Santa Catarina e o Brasil olharem com atenção para Joinville. Todo mundo quer saber, na prática, como funciona uma prefeitura administrada pelo Novo e ela será a única em todo o pais. O joinvilense gosta de protagonismo.
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