Um dos critérios que mensuraram a insatisfação da sociedade com a classe política nas eleições passadas foram os altos percentuais de abstenção que se somavam aos votos brancos e nulos. Em muitas eleições, essa fatia ultrapassava um terço do eleitorado apto a votar e era superior aos números de candidatos eleitos. A eleição deste ano – com essa insatisfação aparentemente atingindo seu ápice – será um bom momento para testar esse critério.
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A evolução do uso da biometria no cadastramento dos eleitores provocou nas últimas eleições municipais uma forte redução nos números de abstenção que agora deve atingir o nível estadual. Os números dão a entender que aquilo que era encarado como apatia do eleitor tinha um forte peso de desatualização de cadastros.
Vamos aos números.
Na última eleição para o governo catarinense, em 2014, apenas 2,92% do eleitorado havia passado pelo recadastramento com as digitais – 142 mil pessoas. Para este ano, são 3,21 milhões – ou 63,4% do eleitorado apto. Em outubro saberemos como isso afetará o volume de abstenções, mas já é possível ver que reduziu a evolução do número de pessoas aptas a votar no Estado. Hoje o eleitorado total é de 5,07 milhões – 4,4% mais do que em 2014. Antes, esse crescimento havia sido de 7% em 2014 e de 8,8% em 2010. A eleição municipal de 2016 foi a primeira em que os três maiores colégios eleitorais de Santa Catarina – Joinville, Florianópolis e Blumenau – contaram com voto totalmente biométrico. Dessa forma, o eleitorado de Blumenau e Joinville ficou praticamente estável entre 2012 e 2016 e o da Capital diminuiu em quase 6 mil eleitores.
O efeito sobre as abstenções foi avassalador. Em Joinville e Blumenau as ausências no primeiro turno caíram para cerca de 9%, na Capital ficaram em 12,2%. Quatro ano antes, as cidades do Vale e do Norte tiveram cerca de 13% de abstenção e Florianópolis atingiu 17,9%. É como se 50 mil pessoas tivessem se reencantado pela política e decidido voltar às urnas.
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O recadastramento biométrico teve como objetivo tornar mais segura a identificação dos eleitores, evitando fraudes. O alto custo e a priorização dessa inovação foram muito questionados – com bons e maus argumentos. Em prática, a biometria mostrou esse saudável efeito colateral de termos números mais consistentes sobre o eleitorado – até para fazer melhores análises sobre o que quis dizer o brasileiro quando foi às urnas.
Na última disputa pelo governo, vencida por Raimundo Colombo (PSD) em primeiro turno, a abstenção chegou a 16,4% – 796 mil ausentes. Em condições normais, seria possível cravar que este ano, pelo menos em Santa Catarina, haveria redução no percentual de abstenção do eleitorado. Mas não são eleições normais, a insatisfação da sociedade com a classe política tem sido aferida por outros instrumentos – inclusive as pesquisas eleitorais mais recentes e seus altos índices de brancos, nulos e indecisos. A resposta sobre essa situação nas urnas. Com números mais qualificados que os de eleições passadas.