Um fundão com R$ 1,7 bilhão em dinheiro público para ser dividido pelos partidos políticos. Candidatos organizando vaquinhas em que o eleitor pode fazer doações a partir de R$ 1 com cartão de crédito ou débito na internet. Dois cenários tão díspares são as grandes novidades no financiamento das eleições este ano, a segunda disputa que terá as doações empresariais proibidas por decisão do Supremo Tribunal Federal.
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Nas eleições municipais de 2016, já com as empresas oficialmente fora do jogo, as campanhas para prefeito e vereador tiveram muitas dificuldades de compatibilizar o padrão de gastos normalmente realizados e as doações de pessoas físicas. Basicamente, especialmente os candidatos a prefeito, dependeram muito dos repasses feitos pelos diretórios nacionais dos partidos ou tirar do próprio bolso – Udo Döhler (MDB), prefeito de Joinville, é um caso emblemático do segundo exemplo.
Se foi difícil na eleição municipal – mais barata, mais próxima do eleitor -, não era difícil prever dificuldades para financiar a campanha eleitoral estadual e nacional. Em 2014, os candidatos eleitos para todas vagas em disputa em Santa Catarina arrecadaram R$ 56,6 milhões – governador, senador, 16 deputados federais e 40 estaduais. Desse valor, R$ 44,7 milhões vieram de 326 empresas, enquanto R$ 6,6 milhões foram doados por 2.486 eleitores e R$ 5,2 milhões vieram da carteira dos próprios candidatos.
O buraco previsível e mensurável por preenchido com esperteza política e pragmatismo quando o Congresso Nacional aprovou o polêmico Fundo Eleitoral de R$ 1,7 bilhão para custear a campanha – somando-se ao já milionário fundo partidário. As regras de distribuição do butim levam em conta o tamanho que os partidos já têm no Congresso – 35% de acordo com os deputados federais eleitos em 2014, 48% pelas bancadas na Câmara até junho do ano passado e 15% pelas bancadas no Senado. Os 2% que sobram, R$ 34 milhões, são divididos igualmente entre os 35 partidos hoje registrados no Brasil.
Alheia à inconformidade generalizada da sociedade, a classe política criou um dispositivo bilionário para proteger-se. É nesse cenário que, ironicamente, surgem as vaquinhas – ou crowdfunding – para facilitar a doação direta do eleitor ao candidato de preferência. Sem a burocracia de depósitos em conta e assinatura de recibos eleitorais, bastam alguns cliques em um dos cerca de 30 sites homologados pela Justiça Eleitoral para o dinheiro chegar ao candidato – descontados os 6% da taxa cobrada pelos administradores. Uma dessas empresas – responsável pelo doacaoeleitoral.org – é de Santa Catarina e tem entre os pré-candidatos já aptos a receberem recursos nomes que vão do PSOL ao Novo, passando por nomes tradicionais da política, como os Amin.
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O mais difícil talvez seja convencer o eleitor a colocar mais dinheiro em uma eleição que está financiando sem querer. Talvez, no entanto, essa seja uma das poucas formas de dar chance de disputa a nomes e partidos que foram preteridos no banquete do fundão eleitoral.