Organizados como um ato nacional e suprapartidário de mulheres contra a candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), os protestos de sábado mostraram a cara da maior oposição ao atual líder das pesquisas. Se o candidato do PSL perder as eleições, as passeatas em 114 cidades brasileiras, seis delas em Santa Catarina, talvez fiquem marcadas como o ponto de inflexão da onda Bolsonaro. Se ele vencer, dão o tom de como será a oposição a seu governo.
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Nas ruas, as passeatas tiveram cores predominantemente petistas. Em Florianópolis, onde a manifestação juntou mais de 15 mil pessoas em um longo roteiro que começou na Catedral, seguiu pelas avenidas Paulo Fontes, Beiramar e Othon Gama D’Éça, encerrando o trajeto no Mercado Público, havia bandeiras de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSOL). Mas era o vermelho dos petistas de Fernando Haddad que praticamente rivalizava com o lilás – a cor que representava o levante de mulheres.
Assim colocado, pode-se dizer que a manifestação foi mais um ato das esquerdas do que das mulheres contra Bolsonaro – o que não diminuiu o peso político do protesto. As ruas de Florianópolis não viam nada parecido desde as manifestações que apoiaram e precederam o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.
É interessante constatar que os atos de sábado e de dois anos atrás são praticamente opostos ideologicamente. Naqueles, o amarelo dava o tom, bandeiras de partido eram rejeitadas, o clima de antipetismo se misturava ao da rejeição total à classe política. Estavam ali as sementes do bolsonarismo que uma esquerda acuada não soube como responder – ou que respondeu com passeatas lideradas à velha e antiquada moda sindical.
Em Santa Catarina é pouco provável que a reação anti-Bolsonaro ganhe volume que impeça uma votação recorde do candidato do PSL nas urnas do Estado no dia 7 de outubro e novamente no dia 28. Mas deixa claro que a esquerda perdeu o receio de ir às ruas e que deve recuperar posições que perdeu nas eleições de 2014 e 2016. Quase dizimada entre os catarinenses no ocaso dos governos federais petistas, chegou a vez da esquerda – em tons feministas – lançar suas sementes.
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