Há oito anos, o então governador eleito Raimundo Colombo anunciou um secretariado escolhido pela lógica política da época: espaços proporcionais aos votos de cada partido da aliança, critérios regionais na ocupação das vagas e muitos parlamentares convocados para abrir espaço aos suplentes. Com sua equipe quase toda definida, Carlos Moisés da Silva (PSL) se prepara para assumir o governo sem ter atendido nenhum desses antigos pré-requisitos. Era a vontade expressa na urna pelos 71% dos votos que lhe deram uma vitória improvável a bordo das ondas conservadora, antipolítica e de Jair Bolsonaro.
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Sem as antigas regras implícitas e neófito como político eleito, Carlos Moisés precisou criar seus próprios padrões na montagem do secretariado. Será cobrado por eles, já que preferiu o isolamento e o alinhamento aos oficiais – os colegas de farda do coronel aposentado dos Bombeiros – e a uma equipe de transição pinçada na própria máquina do funcionalismo e liderada pelo professor e contabilista Luiz Felipe Ferreira, da UFSC.
À exceção de Lucas Esmeraldino, o ex-vereador tubaronense que liderou o processo de criação do PSL bolsonarista em Santa Catarina e garantiu com isso a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, a maior parte dos nomes escolhidos por Moisés vem da própria máquina estadual. Nomes que ocupavam diretorias ou estavam diretamente vinculados ao secretário político da vez. É um risco calculado para um governo outsider e revela maturidade por parte do governador eleito.
No entanto, Moisés deve saber que será cobrado ao primeiro solavanco. Os recados estão sendo dados. No início da semana noticiei a insatisfação da deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL) porque o governador eleito não aceitou sua sugestão para a Secretaria da Educação – a única ainda vaga. Essa insatisfação não é isolada.
Há entre os eleitos do PSL a sensação de que a vitória não foi completa por causa desse alijamento das decisões. O estilo do governador eleito também influiu na participação dos pesselistas na formação da mesa diretora da Assembleia Legislativa – o partido está fora porque o governo eleito não quis entrar na articulação que resultou na pré-definição de Júlio Garcia (PSD) como futuro presidente.
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Há, ainda, insatisfação de suplentes pesselistas que esperavam ascender aos cargos ou participarem do governo. Ninguém foi chamado até agora – nem mesmo o componente regional. Um exemplo é Blumenau, que não elegeu deputados federais em outubro. Policial Civil na cidade, Rui Godinho é o primeiro suplente do PSL, mas não emplacou.
A questão regional traz recados de fora da política partidária também. Em entrevista ao colega Luan Martendal, o presidente da poderosa Associação Empresarial de Joinville (Acij), João Martinelli reclamou da ausência de nomes da maior cidade do Estado no primeiro escalão.