Em Santa Catarina, a pandemia do coronavírus transformou um cenário político que já vivia uma transformação. Um ano depois, há mais incertezas do que certezas quando se olha para as correlações de forças, os projetos partidários e as possíveis candidaturas que vão disputar o poder no Estado em 2022. Uma coisa é praticamente certa: se for à reeleição, o governador Carlos Moisés (PSL) não terá o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), bilhete premiado para a imprevisível vitória do desconhecido bombeiro militar em 2018.
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Até a pandemia, Carlos Moisés vivia o bom momento de um governo leve, com poucas más notícias, e a tranquilidade gerada pela sensação de que todas as forças políticas tradicionais do Estado estavam atordoadas pela onda de mudança que carregou novos personagens para o tabuleiro à esteira da acachapante vitória de Jair Bolsonaro em Santa Catarina – 75% dos votos no primeiro turno. Poucas críticas eram feitas ao governo da chamada nova política e quase todos buscavam alguma aproximação com o bolsonarismo – seja através dos novos eleitos, seja por discursos que buscassem esse eleitorado.
Curiosamente, era justamente Moisés quem marcava diferenças com Bolsonaro e os bolsonaristas até começar a pandemia. A leitura no Centro Administrativo era de que com o governo estadual e o PSL nas mãos, era possível criar um novo centro político estadual que não dependesse do errático e confrontador padrinho da eleição de 2018. Essa leitura não sobreviveu à pandemia – especialmente após a revelação pelo site The Intercept, em maio de 2020, de que o governo havia pago R$ 33 milhões por 200 respiradores de UTI que não haviam sido entregues – e nunca seriam.
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A crise dos respiradores fantasmas abriu uma ferida que até hoje não cicatrizou. O desgaste público do governo Moisés assanhou adversários que estavam silenciosos, fez aliados não muito convictos mudarem de lado, acendeu discursos. Uma CPI e dois pedidos de impeachment quase levaram o governo à lona. A sobrevivência de Moisés veio após um longo e desgastante cabo de guerra com a Assembleia Legislativa em que ambos saíram chamuscados. O acerto entre governo e parlamento fez a nova política ser sepultada e substituída pelo “novo momento” – marcado pela presença ostensiva de nomes do tradicional MDB na máquina do Executivo.
A estabilidade de Moisés será testada de vez no dia 26 de março, quando o Tribunal do Impeachment analisa se afasta o governador do cargo para julgar sua deposição por crime de responsabilidade na compra dos respiradores. A tendência é de que se livre, mas isso não garante mais do que a continuidade do governo em tons menos tensos. Moisés ainda não recuperou a popularidade chamuscada ao longo da pandemia. Para ser candidato à reeleição – viável – precisa virar a página das más notícias. Conta com dinheiro em caixa para obras e ações, mas continua sofrendo com a condução da pandemia – onde apanha dos bolsonaristas por não ser Bolsonaro e dos antibolsonaristas por ser menos rígido nas restrições ao contato social.
Ao mesmo tempo, nenhuma liderança tem conseguido aproveitar a fragilidade do governador para se cacifar como sucessor. Em termos meramente eleitorais, o senador Jorginho Mello (PL) vem trabalhando para ser o candidato oficial de Bolsonaro e dos bolsonaristas, o que pode lhe garantir uma vaga no segundo turno em 2022. O ex-governador Raimundo Colombo (PSD) e o ex-deputado estadual Gelson Merisio (PSDB), derrotado por Moisés no segundo turno de 2018, tentam se colocar no jogo, mas não apresentam o suporte político que já tiveram e nem entusiasmam seu partidos.
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O MDB, maior partido do Estado, lançou uma prévia com Antídio Lunelli, Celso Maldaner e Dário Berger, mas aprofunda a cada dia mais a relação entre os deputados estaduais do partido com o governo Moisés. Reeleito em Florianópolis, o prefeito Gean Loureiro (DEM) tenta mostrar que tem condições de liderar uma ampla aliança, apesar de estar à frente de um pequeno partido e de ter um histórico político de partilhar pouco o poder que conquista.
São muitos nomes, há outros. Em política, o excesso de nomes significa falta. O cenário está aberto como quase nunca esteve. A pandemia deu mais prazo para a transformação política estadual, já em curso. Por enquanto, a tendência é de que o eleitor promova novas surpresas em 2022.
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