Quando se esperava uma votação em bloco dos cinco deputados estaduais que compõem o Tribunal do Impeachment para rejeitar o pedido de afastamento do governador Carlos Moisés (PSL), coube a Laércio Schuster (PSB) dar o último e surpreendente voto que selou a abertura do segundo processo de cassação do atual inquilino da Casa d’Agronômica. O voto do deputado se somou aos dos cinco desembargadores que integram a corte especial, todos pela abertura do processo.
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Laércio diz que seu voto não deveria ter surpreendido ninguém. Participante do primeiro julgamento de impeachment de Moisés, o parlamentar lembra que já naquele momento – na votação decisiva – acompanhou o voto da maioria dos magistrados. Na época, foi um dos dois deputados (com Maurício Eskudlark, do PL) que votou pelo afastamento em outubro e um mês depois decidiu acompanhar a maioria pelo arquivamento do processo.
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Como ainda há todo um julgamento pela frente, Laércio evita fazer prognósticos sobre um novo retorno de Moisés ao cargo. Ressalta que ele terá até 120 dias para apresentar sua defesa e “mostrar aos catarinenses que não tinha nada a ver com essa questão da compra fraudulenta dos 200 respiradores e esse pagamento de R$ 33 milhões”. Diz, no entanto, que pretende conversar com Daniela Reinehr, que assume o governo interinamente nesta terça-feira, e que vai sugerir que ela mude o comando da Secretaria de Saúde.
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A relação de Laércio com o governo Moisés sempre foi de altos e baixos – mais os segundos que os primeiros. Ironizou a falta de diálogo do governador com o parlamento colocando um icônico aparelho de telefone vermelho no plenário da Assembleia Legislativa. Na primeira fase do governo, mostrou-se incomodado com os privilégios dados pelo Centro Administrativa ao deputado estadual Ricardo Alba (PSL) quando os temas envolviam o Vale do Itajaí.
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Na segunda fase, após o primeiro impeachment, também o desconforto mudou de endereço: o privilégio seria ao deputado estadual Jerry Comper (MDB). Na breve conversa por telefone, o parlamentar não deu nome a suas insatisfações – mas não deixou de falar sobre elas.
– Eu fui prefeito (em Timbó) e também aprendi em casa com o meu avô, que foi três vezes prefeito, que a melhor forma de governar é ouvindo as pessoas. Quanto mais eu ouvir as pessoas, menos eu vou errar.
Leia a entrevista:
Seu voto surpreendeu muita gente que acreditou na unidade dos cinco deputados na votação do impeachment para salvar Moisés. Havia esse acordo?
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Não sei a quem surpreendeu. Quem acompanha minha atuação política sabe que eu levo muito em consideração a coerência. Quem acompanhou meu voto no julgamento do primeiro impeachment (caso do aumento salarial dos procuradores, no final de outubro do ano passado), vê que fui extremamente coerente. Quando a maioria do Tribunal de Justiça (quatro dos cinco desembargadores, na época, votaram contra o impeachment) votou em plenário que o governador não tinha cometido crime de responsabilidade, eu votei junto com os desembargadores. Nessa questão dos respiradores, pela minha formação em Direito, especialista em direito público municipal, eu sabia que todas as provas colhidas em 8 mil páginas na CPI dos Respiradores levariam esse tema à imputação de crime de responsabilidade do governador.
No primeiro impeachment o senhor inicialmente acompanhou o voto do magistrado Luz Felipe Schuch pela abertura do processo, na contramão dos outros quatro magistrados.
Isso, foram duas votações. Na segunda votação, quando a maioria dos desembargadores disse não ver crime de responsabilidade, eu votei com eles.
O senhor acha que Moisés consegue voltar ao cargo?
Ele tem até 120 dias para apresentar sua defesa. Foi justamente para isso que eu fiz meu voto, inclusive pela declaração do próprio governador, dentro da CPI dos Respiradores, quando ele não quis se defender naquele momento. Ele disse, está lá escrito, que no momento adequado, se ele for denunciado, ele iria se defender. Então, agora é uma oportunidade para o governador se defender. Ele tem até 120 dias para mostrar para os catarinenses que não tinha nada a ver com essa questão da compra fraudulenta dos 200 respiradores e esse pagamento de R$ 33 milhões que não foram para a saúde de Santa Catarina e nem retornaram aos cofres públicos.
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O senhor teve uma relação complicada com o governo Moisés desde o início. Chegou a levar para o plenário da Assembleia Legislativa um telefone vermelho para ironizar a falta de diálogo do governador com os deputados. Por que essa relação entre o senhor e o governo nunca funcionou?
Infelizmente o governador Moisés não foi um homem público de gestão de governo. Nunca foi. Eu fui prefeito (em Timbó) e também aprendi em casa com o meu avô, que foi três vezes prefeito, que a melhor forma de governar é ouvindo as pessoas. Quanto mais eu ouvir as pessoas, menos eu vou errar. Com a minha experiência de oito anos como prefeito, quando ganhei prêmios, inclusive prêmio nacional do Sebrae como prefeito empreendedor do Brasil, o único de Santa Catarina, eu vim com uma expectativa tão grande para o parlamento. Eu queria levar coisas que Santa Catarina poderia desenvolver em todas as regiões, principalmente as que mais precisam da aproximação do Estado. Acreditei que com essa experiência, esse espírito independente que eu tinha na Assembleia, com a vontade de representar a região do Médio Vale que me elegeu, eu acreditei que nesse espírito de mudança com que o governador Moisés chegou para governar Santa Catarina com 71% dos votos, iria estar ali para governar alguém que quisesse ouvir as pessoas, que ia estar próximo das pessoas, principalmente nas pequenas cidades. E não foi o que aconteceu. Eu bati algumas vezes na porta do governador e de seus secretários e encontrei dificuldade para levar um pouco de experiência e os nossos desafios. Por isso eu tive aquela ideia de colocar aquele telefone vermelho, porque na década de 1980 os governadores tinham aquele telefone para falar com a Assembleia e os secretários. E quando aquele telefone tocava, era coisa séria. Foi tão emblemático que naquela mesma semana o governador me ligou, quis conversar comigo. Ali achei que ia iniciar uma aproximação em que o catarinense só iria ganhar. Infelizmente as coisas foram caminhando e as relações políticas e de governo culminaram no mais do mesmo. Aquele sonho que os catarinenses tanto esperavam de um governo moderno, independente, transparente e que ouvisse as pessoas não aconteceu.
O senhor espera que a vice-governadora tenha um diálogo melhor com o parlamento quando assumir interinamente o governo? Já conversou com ela depois do julgamento?
Não conversei com ela. Pretendo, como tentei várias vezes conversar com o governador Moisés. Claro que pretendo conversar com a nossa governadora. Ela tem uma grande oportunidade de demonstrar nestes meses a sua capacidade de poder gerir Santa Catarina melhor. A única coisa que eu diria para ela, e quero tentar conversar esta semana, é a necessidade de ter pulso firme na gestão da pandemia. Ela precisa trocar urgentemente o secretário de Saúde (André Motta Ribeiro). Nós não aguentamos mais lockdown, não aguentamos mais restrições. O povo precisa trabalhar. Ela precisa cuidar com carinho dessa questão da pandemia que vem muito forte nesses meses de março e abril. Se não gerirmos melhor todo o sistema público, vamos entrar num colapso. E que ela abra as portas do governo para ouvir não só os deputados, mas a cadeia produtiva, os trabalhadores, os catarinenses. Que ela saia do palácio, do ar condicionado, e vá ao encontro das pessoas, principalmente nas pequenas cidades. As pessoas querem sentir que Santa Catarina tem um líder.
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