Diz o ditado que a política é como as nuvens, sempre sujeita a mudar pela força dos ventos. A Assembleia Legislativa começou, nesta terça-feira (27), a mostrar que o vento mudou a direção e que isso terá efeitos sobre o futuro da governadora interina Daniela Reinehr (sem partido) e do governador afastado Carlos Moisés (PSL). O primeiro movimento foi a eleição dos cinco membros do parlamento que vão integrar o segundo Tribunal do Impeachment junto com os cinco desembargadores sorteados pelo Tribunal de Justiça na segunda-feira (26).

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Os nomes escolhidos entre os 40 deputados estaduais foram: Valdir Cobalchini (MDB), com 36 votos; Fabiano da Luz (PT), José Milton Scheffer (PP) e Marcos Vieira (PSDB) com 33; e Laércio Schuster (PSB) com 32. O grupo foi escolhido a dedo nos bastidores e referendado pela maioria do plenário para indicar uma mudança de postura do parlamento em relação ao governador afastado Carlos Moisés. O respaldo político a Daniela Reinehr na Alesc é ainda menor do que o dele. 

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Em 22 de setembro, quando foram eleitos os cinco deputados que integram o Tribunal do Impeachment que analisa o caso do aumento dos procuradores toda a construção foi no sentido oposto. Para garantir o afastamento de Moisés e Daniela, levando o presidente Júlio Garcia (PSD) ao governo interino, todas as articulações foram para que parlamentares de partidos mais ferrenhamente oposicionistas estivessem na lista. Da mesma forma, todas as articulações foram feitas para impedir que nenhum nome ligado à frágil bancada governista da época estivesse entre os cinco eleitos. 

Desta vez, o vento mudou. Têm outro perfil os eleitos para o tribunal misto que vai analisar a existência de crime de responsabilidade de Moisés na compra de 200 respiradores de UTI por R$ 33 milhões – pagos antecipadamente por equipamentos nunca entregues. Para começar, não há representes do PSD, do PL e do PSL, os partidos onde se encontra o maior antagonismo a Moisés. Mesmo os oposicionistas escolhidos são mais moderados.

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A lista também tem o pepista José Milton Scheffer, que sempre foi próximo de Moisés, embora tenha votado a favor de abertura do processo. Na mesma linha, o petista Fabiano da Luz também teria mais facilidade de votar contra o impeachment do governador afastado para impedir a consolidação de um governo na linha bolsonarista, como Daniela Reinehr promete fazer.

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O efeito do vento sobre as nuvens, aliás, também se mostrou entre os bolsonaristas. O deputado estadual Sargento Lima, pivô da reviravolta que levou Daniela Reinehr ao governo interino, foi destituído da liderança do PSL na Alesc. Ele foi substituído por Ana Campagnolo, que enfrenta críticas de militantes ligados a Daniela pelo voto a favor do impeachment dela em plenário. Na época, Lima teve a mesma posição que ela, assim como todo grupo bolsonarista da bancada. A mudança de posição veio apenas na sessão do Tribunal de Impeachment, quando Lima surpreendeu os colegas ao votar pelo afastamento de Moisés e poupar Daniela – o que foi fundamental para que o pedido de impeachment contra ela fosse arquivado por 6 votos a 5. 

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Nos bastidores, a avaliação é de que a mudança de postura de Sargento Lima não poderia ser assimilada pelo parlamento sem alguma rápida reação. A destituição da liderança da bancada também foi uma forma de os colegas de PSL bolsonarista sinalizarem que não fazem parte da trama. No plenário, Ana Campagnolo disse ver semelhanças em Moisés e Daniela como pessoas que chegaram ao governo se dizendo bolsonaristas e que espera que a governadora interina realmente assuma a agenda do presidente Jair Bolsonaro. 

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Mesmo assim, disse que pretende se dirigir ao novo governo apenas através de ofícios. Os dois primeiros pedem que a nova governadora encampe as propostas de regulamentar o ensino domiciliar e da criação de uma carteira digital de identificação estudantil, aos moldes da proposta por Bolsonaro ao Congresso Nacional em medida provisória.

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