Passados cinco dias da deflagração da Operação Alcatraz, da Polícia Federal, o deputado estadual Júlio Garcia (PSD) rompeu o silêncio em um lugar que conhece como poucos, mas que poucas vezes frequenta: a tribuna da Assembleia Legislativa. Não foi uma escolha aleatória. A primeira fala foi destinada àqueles que o elegeram por unanimidade para conduzir o parlamento estadual pela terceira vez.

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Júlio Garcia garantiu não ter envolvimento algum com os supostos esquemas de corrupção na Secretaria de Administração à época em que Nelson Nappi ocupava o cargo de secretário-adjunto – considerado o epicentro da investigação da PF. Não rejeitou os amigos. Admitiu a longa relação de amizade com Nappi, de quem foi padrinho de casamento, e com um dos empresários que teria participado do esquema. Não confrontou a Justiça ou a PF, não apontou vinculações políticas, tentou demonstrar serenidade. Disse viver “o dia mais triste” de sua carreira política.

Da mesma forma que não rejeitou os amigos, não foi rejeitado por eles. Assim que o pessedista terminou sua fala – aplaudida por deputados e servidores presentes – a colega Paulinha (PDT) foi ao microfone de apartes prestar solidariedade e lembrar a antiga amizade. Assim começou um rosário de discursos que englobou 11 deputados de oito partidos – os pessedistas Ismael dos Santos, Milton Hobus e Marlene Fengler, os emedebistas Valdir Cobalchini e Luiz Fernando Vampiro, Fabiano da Luz (PT), Laércio Schuster (PSB), Maurício Eskudlark (PL), Felipe Estevão (PSL) e Ivan Naaz (PV).

Alguns chegaram a dizer que confiavam integralmente na inocência do presidente da Casa, como Naatz. Outros, como Hobus, garantiram que os deputados queriam a permanência de Júlio Garcia no comando do parlamento mesmo com as investigações. Ninguém se levantou para tecer alguma crítica ou objeção. Na entrevista coletiva que concedeu ao final do pronunciamento, o pessedista usou esse endosso ao justificar a decisão, por ora, de não pedir licença da presidência para focar em sua defesa.

A decisão de falar foi tomada apenas na noite de segunda-feira. A avaliação foi de que ficar em silêncio seria pior. Júlio Garcia falou e foi abraçado pela Assembleia Legislativa. Poucos minutos depois, à imprensa, diria que seu único patrimônio são seus amigos. Nesta terça-feira, no plenário, deu uma prova eloquente disso.

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