Mais até do que a própria defesa do governador Carlos Moisés (PSL) no caso da desastrosa compra dos respiradores da Veigamed, talvez o dado mais eloquente da longa entrevista que ele concedeu aos veículos da NSC Comunicação seja a tentativa de reaproximação do comandante com o capitão. Em mais de uma oportunidade, Moisés elogia o presidente Jair Bolsonaro e busca similaridades entre ações dos governos estadual e federal.
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Por mais que o governador negue e diga que as diferenças existentes entre ele e o presidente sejam fruto de interpretações equivocada de frases descontextualizadas e de pressão de grupos locais que levaram desinformação a Bolsonaro sobre as atitudes do governo catarinense, é claro que se trata de um recálculo de rota. Em diversos momentos, especialmente ano passado, as diferenças no estilo do governador e do presidente foram celebradas no Centro Administrativo e no Palácio d’Agronômica.
A saída de Bolsonaro do PSL para tentar fundar o Aliança pelo Brasil foi acompanhada passo a passo, rumor a rumor, como a possibilidade de herdar aqui no Estado uma legenda com potencial de expansão, mas sem discursos extremos. Foi o próprio Moisés que disse, em janeiro, “agora o PSL tem a cara do governador”. No início da pandemia, quando o catarinense se alinhou aos governadores que se opuseram à inação do governo federal e implantaram, cada uma a sua maneira, as restrições para forçar o isolamento social, Bolsonaro chegou a reclamar de Moisés com “mais um que se elegeu nas minhas costas”.
À frente de um governo sem torcida – os chamados bolsonaristas são os que fazem a oposição mais barulhenta -, Moisés acena a um presidente que também não vive seus melhores momentos em termos de popularidade e força política. O que ganha, veremos à frente. O maior gesto talvez esteja na entrevista à NSC, quando admite com todas as letras, possivelmente pela primeira vez, que os catarinenses não o conheciam quando o elegeram com 71% dos votos por ser “o governador do Bolsonaro”. Será possível voltar a ser? Hoje, tudo indica que não, mas em política os gestos sempre são os primeiros passos.
Reflexos e reflexões

O governador Carlos Moisés colocou em destaque em seu gabinete o capacete dourado que ganhou dos colegas do Corpo de Bombeiros, onde é coronel da reserva. Reflete mais que muito espelho.
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Frase da semana
O governador tem concedido cada entrevista que me dá nos nervos, não sei que mundo ele ‘véve’, não é nem vive. Governador, onde estava quando estado pagou R$ 33 mi? O senhor estava acompanhando o dia-a-dia da SES, onde havia misto de pânico e inexperiência, que resultou nessa compra catastrófica?”
Ada de Luca (MDB), deputada estadual, reclamando das entrevistas de Carlos Moisés.
Hora de sofrer

Toda vez que anuncia medidas mais duras no combate ao avanço do coronavírus em Florianópolis, o prefeito Gean Loureiro (DEM) diz que não se importa com a possível perda de popularidade. Ao ampliar as restrições às atividades econômicas na nesta semana, poucos dias depois da volta dos ônibus sinalizarem uma volta à normalidade possível, o demista abriu o flanco para seus adversários à esquerda e à direta. Estão aproveitando.
Conflito de versões
Duas narrativas se chocam nos bastidores da relação entre o governo Moisés e potenciais aliados na Assembleia Legislativa. Uma delas, de origem partidária, diz que o governo oferece cargos no secretariado aos deputados, mas eles rejeitam porque temem integrar um governo que cambaleia. Outra, palaciana, aponta que os parlamentares querem os cargos, mas é o governador quem resiste a entregá-los. Perguntei a Moisés e ele disse que não pensa em nomear deputados, mas evita dizer que não beberá desta água.
Pediram para sair
O deputado estadual Bruno Souza (Novo) chegou a conseguir as 14 assinaturas necessárias para apresentar a PEC para mudar a regra das eleições indiretas em caso de vacância dos cargos de governador de vice: atualmente prevista para os dois últimos anos de mandato, ficaria com a emenda apenas nos últimos seis meses. No entanto, Marcos Vieira (PSDB), Maurício Eskudlark (PL), Sargento Lima (PSL) e Sérgio Motta (Republicanos) apresentaram um incomum requerimento de retirada de assinaturas.
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Fora do jogo
O coronel Araújo Gomes deixou o comando-geral da Polícia Militar e a provável candidatura a prefeito de Florianópolis em nome do sonho de assumir a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Vetado pelo presidente Jair Bolsonaro após pressão de bolsonaristas locais, ele não retoma as vagas. Na reserva, não pode assumir o comando. Em Florianópolis, o PSL de Moisés deve indicar o vice na chapa de outro partido.
Concisas
– A vice-governadora Daniela Reinehr sondou um parlamentar para comandar a Casa Civil de um hipotético governo seu. Como é muito hipotético, ele preferiu não responder.
– Em Criciúma bastou a Câmara abrir uma CPI que o prefeito Clésio Salvaro (PSDB) não teria o controle para descobrirem que as regras para formação das comissões são completamente irregulares. Antes, ninguém se deu conta.
– Na Secretaria de Articulação Nacional, Lucas Esmeraldino tem conseguido azeitar a relação do governo Moisés com os ministérios. Falta chegar no chefe dos ministros.
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