O impeachment é um caldeirão em que se mistura lentamente um espesso caldo de erros políticos, falta de apoio popular, déficit de governabilidade, denúncias e – para temperar – o tal crime de responsabilidade. Esse caldeirão ferveu na manhã de quinta-feira, quando agentes da Polícia Federal entraram pela primeira vez na história na Casa d’Agronômica com mandados de busca e apreensão contra o inquilino da vez. O constrangimento coube a Carlos Moisés da Silva (PSL), o governador da chamada nova política, em meio ao calvário do impeachment.
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O caldo está, agora, quase pronto para ser servido. Ferveu tanto, que convém esperar mais uns dias: na Assembleia Legislativa se trabalha com a data de 23 de outubro para a votação do afastamento de Moisés e da vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido) no Tribunal do Impeachment. Em julgamento estará um tema que nada tem a ver com o caso dos respiradores fantasmas, motivo da ida da PF à residência do governador.
É o aumento R$ 5 mil dado por baixo dos panos e precariamente embasado aos procuradores do Estado, que não motiva o mesmo espetáculo dos órgãos de controle e nem a fúria da opinião pública pelo sumiço de R$ 33 milhões pagos por equipamentos que nunca vieram, mas acabou sendo útil pela possibilidade de envolver também Daniela e assim promover esse restart em relação ao que disseram as urnas em outubro de 2018.
Para o caldeirão do impeachment, pouco importa. A PF no palácio desmonta a estratégia do governo Moisés de ganhar a opinião pública com a narrativa do governo sério e bom gestor que está a sofrer um golpe da velha política, daqueles que perderam o comando do Estado e o querem de volta. Até mesmo a contraposição ao presidente da Alesc Júlio Garcia (PF), alvo da PF na Operação Alcatraz, perde força diante do fato de que ambos – o novo e o velho – já foram acordados por agentes com mandados de busca e apreensão nas mãos.
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Se ainda cambaleava, o governo Moisés acabou na quarta-feira. Mesmo que escape do impeachment dos procuradores, o que é improvável, está em tramitação o que trata dos respiradores. Se escapar deste também, mais improvável ainda, não tem base para reconstruir tudo aquilo que hoje ferve no caldeirão do impeachment pronto para ser servido.
Frases da semana
“Se apontou o dedo para muito governador, para muita gente, mas jamais a PF havia entrado na Casa d’Agronômica. Acho que chegou ao fim, o termo melancólico de um governo incapaz”
Ivan Naatz (PL), líder da oposição, sobre a operação da PF na residência oficial do governador.
“Não é a primeira vez, nem será a última que algum agente público receberá a visita de órgãos investigativos para busca e apreensão. Não nos cabe ser algozes do governador, a verdade vai chegar”
Paulinha (PDT), líder do governo, em defesa de Moisés na resposta a Naatz.
Falando sozinho

Sorteado relator do impeachment no tribunal misto, o deputado estadual Kennedy Nunes (PSD) vai falar sozinho até dia 9 de outubro, quando apresentará seu parecer sobre o afastamento ou não do governador Carlos Moisés e da vice Daniela Reinehr para responder ao processo por crime de responsabilidade no pagamento da verba de equivalência aos procuradores do Estado. Mais verborrágico dos oposicionistas, ele foi aconselhado a submergir. Anunciou nas redes sociais que vai passar uns dias fora e até mudou de telefone.
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A luta de Daniela
Depois de reaproximar-se de Moisés, a vice Daniela Reinehr “reafastou-se” nos últimos dias. Sua luta está totalmente focada em distanciar-se do governador. Juridicamente, convencer os desembargadores que integram o Tribunal do Impeachment que não tem participação no aumento dos procuradores. Na opinião pública, de que tem condições e legitimidade de assumir o governo do Estado, criticando o governo atual.
Fora da Alesc
Na política, no entanto, as portas para Daniela Reinehr estão tão fechadas quanto as de Moisés. Seus movimentos no Oeste para tentar escapar da degola incomodaram os parlamentares da região – maior bancada da Alesc, com 14 integrantes. Os deputados estaduais bolsonaristas também não a querem por perto, depois de constrangidos nas redes sociais pela deputada federal paulista Carla Zambelli – que em apoio a Daniela inflamou a militância fiel ao presidente para que os pressionassem a votar contra o impeachment da vice.
Vestígios

Virou parte da decoração do plenário da Assembleia Legislativa o telefone vermelho que o deputado estadual Laércio Schuster (PSB) colocou por lá como deboche ao anúncio de que Moisés teria comprado um celular apenas para falar com os parlamentares. Resta saber se vai continuar por lá se o presidente Júlio Garcia (PSD) virar governador interino caso o governador e a vice sejam afastados pelo Tribunal do Impeachment. A linha Executivo-Legislativo certamente seria direta.
Concisas
– Para onde ia Daniela Reinehr com tanta pressa no vídeo que gravou quarta-feira dizendo que não tinha nada a ver com as coisas de Moisés?
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– Falta uma assinatura para começar a tramitar a PEC que estende o prazo para eleição diretas em caso de vacância dos cargos de governador e vice. Atualmente, esse prazo acaba no fim do segundo ano de mandato. Ou seja, menos de três meses.
– Algumas lideranças políticas de SC não sabem o que temem mais: um governo Júlio Garcia ou testar o humor do eleitorado neste momento.
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