Há alguns anos, não muitos, uma espécie de maldição parecia cercar o nome de Hercílio Luz – icônico governador de Santa Catarina nos anos 1890 e 1920. Obras ou lugares que faziam referências ao líder do antigo Partido Republicano Catarinense encontravam-se abandonadas, ignoradas, atrasadas ou em ruínas. Em 2019, estamos vendo essa situação mudar.  

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Trago aqui quatro exemplos. O mais enfático deles, claro, é a Ponte Hercílio Luz, primeira ligação entre Ilha e Continente em Florianópolis. Iniciada por ele em 1922, foi concluída quatro anos depois – Hercílio morreria dois anos antes. Deveria ter se chamado Ponte Independência, pelo desejo dele, mas sua morte tornou inevitável – pelo menos aos políticos da época – a homenagem.   

Tivessem seguido o roteiro original, talvez poupassem o homenageado de ter seu nome em um monumento ao desperdício de recursos públicos e ineficiência estatal por uma reforma que se arrastou pelo tempo. Se tudo der certo, no entanto, a Ponte Hercílio Luz será entregue de volta aos catarinenses no final do ano.   

Outra ligação de Florianópolis com o mundo que leva o nome do ex-governador também está prestes a ser inaugurada. O novo terminal do Aeroporto Internacional Hercílio Luz está pronto desde junho e entra em operação no dia 1º de outubro – enquanto isso, a concessionária Floripa Airport faz testes e conclui as obras de uma grande praça em frente ao terminal. Situação que em nada lembra os atrasos e postergações do tempo em que a Infraero colocou o aeroporto catarinense no final da fila de suas prioridades.  

Há ainda, também na Capital, uma avenida que leve o nome de Hercílio Luz. Foi em seu governo que houve a canalização do Rio da Bulha, hoje coberto. A avenida também recebeu obras de revitalização por parte da prefeitura este ano, mas a verdadeira reenergização do local se deu pela ocupação das pessoas e descoberta de sua vocação boêmia. Em nada lembra a época em que era um trecho sombrio e perigoso da região central.  

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Por fim, encerrando este relato de tristes coincidências envolvendo o ex-governador, tivemos na última quinta-feira a apresentação do restauro do casarão em que morou Hercílio Luz até a morte, em 1924. Nos altos da avenida Mauro Ramos, o palacete permaneceu em ruínas por duas décadas – um desrespeito à história e à memória. Recuperado por um empreendimento privado, também está sendo devolvido ao cotidiano dos catarinenses. Assim, podemos dizer que, em 2019, Hercílio Luz descansa em paz.