A ausência de Lula (PT) da disputa e da campanha eleitoral faz com que, mesmo contra a vontade dos petistas, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) surja como favorito a herdar o espólio do ex-presidente. Medindo as palavras para sair da sombra de Lula sem afastar seu eleitor, o pedetista mostra que vai assumir esse desafio em sua terceira disputa presidencial. Foi o que mostrou na série de eventos que realizou em Itajaí, durante o dia de ontem.
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Vindo de Porto Alegre, onde participou do Fórum da Liberdade, Ciro Gomes chegou no início da tarde e logo encarou um almoço com lideranças do PDT estadual. Além dos militantes, estava lá o pré-candidato a governador pelo PSD, Gelson Merisio, que no final de março recebeu o apoio oficial do partido a seu projeto. O foco dos pedetistas catarinenses é claro: manter pelo menos uma vaga na Assembleia Legislativa, hoje de Rodrigo Minotto, e eleger Manoel Dias deputado federal.
Ciro exaltou a projeto de “dar a Santa Catarina uma voz alta na Câmara Federal” com a eleição de Manoel Dias logo que abriu a fala às lideranças reunidas na Associação Intersindical Patronal de Itajaí. Citou Merisio como “nosso candidato a governador”, abençoando uma construção que vem sendo realizada a mais de um ano. O pessedista já elogiou mais de uma vez o presidenciável do PDT, embora pretenda contar com um palanque aberto e só apoiar oficialmente um nome no segundo turno.
Ciro, Merisio, Manoel Dias e Minotto dividiram a mesa do almoço com o vice-prefeito de Itajaí, Marcelo Sodré, e o ex-vice-prefeito de Joinville, Rodrigo Bornholdt (PDT), mas apenas o presidenciável falou. Afirmou que preciso aproveitar o momento pré-eleitoral – “antes que o espocar dos foguetes e as musiquinhas infernizem nossa vida” – para forçar um debate sobre os problemas estruturais do país.
O pedetista quer pautar um debate econômico ao afirmar que o país está hoje “proibido de crescer”, apontando como causas principais o endividamento das famílias e das empresas, o colapso fiscal causado pela dívida pública e a desindustrialização. Afirma ser possível traduzir esses problemas ao eleitorado. Além disso, pretende aliar essa discussão à pauta que chamou de “emergência popular”: a demandas por mais segurança, saúde e emprego – estas, de presença garantida na campanha eleitoral de todos os candidatos.
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Ciro quer fugir da fama de destemperado que marcou sua campanha eleitoral de 2002, quando surgiu como opção à Lula enquanto José Serra (PSDB) ainda patinava nas pesquisas. Uma sequência de frases desastradas ou mal-contextualizadas, aliada à máquina tucana, fizeram sua candidatura murchar. Passados 16 anos, o pedetista não foge dos assuntos, tem números na ponta da língua, relata experiências como prefeito, governador, ministro, aposta no fim da polarização entre PT e PSDB para chegar ao Planalto. Sem deixar de ser Ciro, é claro: ao fim da entrevista coletiva, usou um palavrão para dizer o que pensa dos defensores da independência da região Sul do Brasil.