Todos os analistas apontavam que a candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL) se tornara uma onda em Santa Catarina. O que não se esperava era que a onda se tornaria um verdadeiro tsunami com capacidade para mudar quase toda a lógica e a tradição das eleições catarinenses. O eleitor do Estado deu a Bolsonaro sua maior votação proporcional do país, 65%, e estendeu esse voto de confiança aos candidatos locais do capitão reformado do Exército.

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Minúsculo até abril desde ano, quando foi assumido partidários de Bolsonaro, o PSL alcançou números de legenda grande. Colocou Comandante Moisés em um até então improvável segundo turno contra Gelson Merisio (PSD) – uma diferença menor do que dois pontos percentuais. Vereador em Tubarão, Lucas Esmeraldino (PSL) deixou o ex-governador Raimundo Colombo (PSD) para trás e disputou voto a voto uma vaga no Senado com Jorginho Mello (PR), que acabou eleito junto com Esperidião Amin (PP). O PSL fez a maior bancada na Câmara dos Deputados, com quatro integrantes, e a segunda da Assembleia Legislativa, com seis.

Esse novo integrantes da elite partidária catarinense é a grande novidade da eleição. Impulsionado pelo fenômeno Bolsonaro, o PSL fez um estrago na correlação de forças tradicional do Estado. Tirou o MDB, maior partido do Estado, de um segundo turno considerado certo – Mauro Mariani ficou em terceiro até em Joinville, sua base eleitoral. Aparentemente, a decisão de apoiar Bolsonaro apenas no segundo turno o colocou na contramão da onda.

No parlamento, esvaziou partidos de centro-direita. O PSDB reduziu pela metade: perdeu um deputado federal e dois estaduais. O PP também diminuiu – incluíndo o inédito fato de uma presidente da Assembleia Legislativa não se reeleger, caso de Silvio Dreveck. Com Esperidião eleito senador, Angela e João deputados federal e estadual, a família Amin tem tudo para retomar o comando quase completo da sigla. O próprio PSD de Merisio encolheu: fez cinco estaduais e dois federais.

As esquerdas também foram afetadas, especialmente o PT. Perdeu uma cadeira na Alesc, fazendo quatro, e uma na Câmara, onde apenas reelegeu Pedro Uczai. Bem cotado nas pesquisas, Décio Lima (PT) não conseguiu ir além dos 12,7% dos votos válidos e ainda amargou ver a mulher Ana Paula Lima (PT) apenas como suplente de deputado federal.

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É nesse cenário que Santa Catarina voltará às urnas para escolher entre Merisio e Moisés quem será o próximo governador do Estado. Merisio antecipou-se à onda e declarou voto em Bolsonaro uma semana antes das eleições. Reteve, assim, parte do eleitor bolsonarista. Terá do outro lado o candidato do PSL encarnando a novidade. A presença e o engajamento de Bolsonaro em Santa Catarina será fundamental para esta definição.

A última onda presidencial a mexer com a política estadual nesse nível foi a de 2002, quando Lula foi o mais votado entre os catarinenses e elegeu com ele uma senadora e as maiores bancadas federais e estaduais – por pouco não botou um petista no segundo turno contra Amin. O efeito daquela onda foi a ascensão de Luiz Henrique da Silveira e a criação de uma nova hegemonia política liderada pelo PMDB. O tsumani Bolsonaro tem condições de ter um efeito ainda maior que a onda petista de 16 anos atrás.