É interessante como Alcatraz e Chabu, as duas operações da Polícia Federal que abalaram a política estadual nas últimas duas semanas, estão interligadas em sua gênese. É o que mostram os documentos que basearam as decisões do desembargador federal Leandro Paulsen, entre elas a prisão temporária e o afastamento do cargo do prefeito florianopolitano Gean Loureiro – a primeira medida revogada no mesmo dia.

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A gênese da investigação é tão inusitada que parece obra de ficção – um conto de um escritor criativo, mas pouco acostumado ao dia a dia da política. Um assessor do ex-deputado Gelson Merisio teria ido a Brasília a pedido do então presidente da Alesc, Silvio Dreveck (PP) para confirmar com nada menos do que Erica Marena, aquela que batizou a Lava-Jato e que também comandou a PF em Santa Catarina – a veracidade do vazamento.

Segundo o assessor, Dreveck estava disposto a cancelar os contratos com a empresa Ondrepsb caso a delegada confirmasse que ela estava sob investigação – o que se confirmaria com a deflagração da Alcatraz. Ele levou uma reprimenda de Erica Marena e concordou. Reproduzo:

— De nossa parte, a reação foi de indignação, e a afirmação de que jamais responderíamos a este tipo de pergunta, no sentido de confirmar ou não a existência de uma investigação, no que Diogenes Duarte (nome do assessor) concordou e ainda disse que avisou o deputado de que esta seria a reação esperada de fato – disse a delegada.

A Operação Alcatraz, em 31 de maio, descortinou um esquema de corrupção na Secretaria Estadual de Administração envolvendo Nelson Nappi, secretário-adjunto da pasta nos governo de Raimundo Colombo (PSD) e Eduardo Pinho Moreira (MDB). Os endereços do presidente da Alesc, Júlio Garcia (PSD) sofreram busca e apreensão. A Operação Chabu partiu deste e de outros vazamentos para chegar à figura de José Augusto Alves como uma espécie de caixeiro viajante da arapongagem. Na investigação, indícios de que Gean Loureiro seria seu cliente. À medida que a trama avançar, vamos conhecer o que é verdade e o que é ficção.

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Reflexão

Antigamente era muito mais difícil tirar o Floriano Peixoto do governo.

O argumento

Em 100 dias, a partir deste domingo, os suíços da Zurich Airport inauguram o novo aeroporto de Florianópolis. A dúvida que ainda persiste é se o governo do Estado termina até lá o novo acesso ao terminal – e em que condições. Se o desencontro for muito grande, os defensores de privatizações e concessões vão ganhar um exemplo permanente de que quando o obra é privada, fica pronta antes. A não ser, é claro, que no meio do caminho tenha uma ANTT.

Com ou sem Bruno

Além da diretoria legislativa e da procuradoria da Alesc, deputados estaduais também estão sendo consultados pelo presidente Julio Garcia sobre como proceder em relação à permanência de Bruno Souza nas comissões de que participa por indicação do bloco de que faz o PSB, partido de que se desfiliou. A tendência é de que permitam que ele continue onde está – o que inclui assento da importante Comissão de Finanças.