O governo Carlos Moisés (PSL) vai recorrer à política – tão negada ou ignorada em diversos momentos do mandato – para tentar sobreviver ao processo de impeachment deflagrado na quinta-feira pela Assembleia Legislativa. Os movimentos estão sendo realizados e visam construir não apenas os 14 votos necessários para impedir a cassação, mas também uma coalizão política o que permita governar com menos sobressaltos até 2022.
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A data não é mero acaso. Nas conversas que o governador Moisés e seus emissários têm mantido com lideranças políticas estaduais uma das cartas que coloca na mesa é a eleição para governador em 2022 – quando, se tudo der certo para o atual inquilino da Casa d’Agronômica, será disputada sua sucessão. Moisés tem garantido que não pretende disputar a reeleição e que precisa de apoio para terminar bem o mandato.
Antes da crise política, o governador falava abertamente da intenção de ter o mandato avaliado nas urnas em 2022. Agora, mudou o tom. Com isso, espera adoçar as conversas com nomes que podem ser candidatos a governador nas próximas eleições, como os senadores Esperidião Amin (PP), Jorginho Mello (PL) e Dário Berger (MDB) – e que eles influenciem as bancadas de seus partidos.
Para quem não quiser defender explicitamente o governo Moisés no processo de impeachment contra ele e a vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido), a senha é posicionar-se contra a possibilidade de que o próximo governador seja definido em eleição indireta – eleito pelos 40 deputados. Para que a eleição seja direta, é necessário que o processo de impeachment seja concluído com a cassação de Moisés e Daniela ainda em 2020. Se o processo de estender até o ano que vem, como se prevê nos bastidores, a eleição será indireta, precedida pela interinidade do presidente da Alesc, Júlio Garcia (PSD), no comando do Estado.
Moisés também está disposto a mudar um discurso que adotava até poucas semanas atrás: o de não nomear deputados estaduais para o secretariado. Na entrevista que concedeu a mim e ao colega Raphael Faraco no final de junho, o governador disse: “Não há planos e não há deputados cotados, pelo menos pelo governo, para exercerem secretarias”. Agora, essa possibilidade está aberta na tentativa de recomposição do governo, a começar pela Casa Civil – núcleo político do governo, vaga desde a saída de Amandio João da Silva Júnior no final de junho. A nomeação de um deputado também atrelaria ao governo o suplente que assumisse a vaga – atualmente um parlamentar do PP é o favorito para assumir o posto.
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A abertura do governo aos deputados fica clara na própria manifestação do governador ao comentar a abertura do processo de impeachment, na quinta-feira, quando focou no presidente Júlio Garcia a decisão pela deflagração. Na escolha das palavras, enfatizou respeitar “a Alesc e os deputados estaduais”. Nessas horas, todo gesto vale. Resta saber há tempo ou disposição dos parlamentares para conversas que deveriam ter acontecido antes de uma crise política estourar.
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