Em maio do ano passado, as delações da Odebrecht e da JBS narrando supostos favorecimentos em troca de doações – regulares e irregulares – para campanha eleitoral causaram uma baixa de peso no governo de Raimundo Colombo (PSD). Tido como uma espécie de primeiro-ministro, o secretário da Fazenda Antonio Gavazzoni (PSD) anunciou que deixaria a administração para cuidar da própria defesa.

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Citado como intermediário de propinas que teriam como objetivo azeitar a venda da Casan para uma das duas empresas, Gavazzoni disse que não conseguiria manter o ritmo de trabalho na Fazenda com as acusações na cabeça. Fora do governo, o ex-secretário engajou-se na tarefa de comprovar que não houve corrupção envolvendo a intenção de vender parte das ações da estatal de água e saneamento. Conseguiu.

Foram reunidos e incluídos na defesa os documentos que refazem o passo a passo das tratativas do governo para a negociação de 49% das ações. Começa com o ainda candidato Raimundo Colombo defendendo em um debate a venda de parte da Casan para garantir os investimentos necessários no setor. No encontro, Colombo fala em arrecadar R$ 2 bilhões com a operação.

Depois, são expostos os trâmites para aprovação do projeto que autorizou a venda das ações na Assembleia Legislativa, que incluiu a necessidade de venda em pregão na Bolsa de Valores. Vencida essa etapa, ainda no primeiro ano de mandato de Colombo, em 2011, o governo levou adiante a ideia de realizar o negócio – nos bastidores, a Odebrecht era apontada como a principal, mas não única, interessada.

Três empresas de consultoria fizeram as avaliações de mercado da Casan. As três chegaram, ainda em 2012, a um valor muito abaixo do que a expectativa, cerca de R$ 200 milhões. Em 13 de agosto de 2013, um documento assinado por Gavazzoni e endereçado a Dalírio Beber (PSDB), na época presidente da Casan, oficializa a suspensão das tratativas de venda das ações diante das avaliações: “estudos apresentaram um valor econômico que se mostra insuficiente para fazer frente ao plano de investimentos em esgotamento sanitário”.

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Esse documento é o maior trunfo de Colombo, Gavazzoni e todos os envolvidos no caso para desfazer a narrativa de que as supostas doações foram concedidas em troca da venda da Casan – o que enquadraria o caso como corrupção. Houve lógica e plausibilidade nas decisões de abrir e encerrar as negociações.

Sem a vinculação da Casan, Colombo e seu histórico aliado José Carlos Oneda ainda terão que se explicar na denúncia de doação em caixa 2 da Odebrecht. Apenas a revelação do conteúdo da peça entregue pela Procuradoria-Geral da República (PGR) mostrará o tamanho do problema. Mas, aí, não é mais problema de Gavazzoni, que deve estar aliviado agora.

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