Após a senha dada na terça-feira pelo governador Eduardo Pinho Moreira (MDB) de que “agora, é a lei”, Santa Catarina viveu na quarta-feira a sensação de que a greve dos caminhoneiros começa realmente a ficar no passado como movimento. No entanto, seus efeitos continuarão a ser sentidos e pagos pela sociedade ao longo das próximas semanas e meses. A conta ainda vai chegar.

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Durante toda a quarta-feira, operações policiais conseguiram liberar praticamente todos os pontos de bloqueio que ainda existiam nas estradas catarinenses – eram 149 na véspera. Ainda existiam focos de resistência, insuflados por pessoas que os setores de inteligência do Estado identificam como infiltrados de extrema-esquerda e extrema-direita – interessados mais no caos do que no preço do diesel ou do frete. O discurso da intervenção militar – esse neosebastianismo – ainda ecoa nos acostamentos, indicando essa perda de objeto das manifestações.

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Se a vida começa a voltar ao normal, o custo do protesto – que começou encharcado de legitimidade, mas ultrapassou os limites da responsabilidade – ainda nem cifras tem. Pinho Moreira teve mais uma reunião na quarta-feira com o presidente da Fiesc, Glauco Côrte. Conversou também com dirigentes do agronegócio. Um consenso é de que não é possível – e nem se sabe se será  – calcular o tamanho do prejuízo. Dezenas de pontos de uma cadeia construída ponto a ponto ao longo do tempo terão um lento recomeço – do produtor ao produto acabado.

Em nota no final da tarde, a Fiesc apontava preocupação com os efeitos a longo prazo, incluindo a quebra de contratos pelo não cumprimento dos prazos das exportações contratadas – afetando a credibilidade dos exportadores. A entidade apontou que a paralisação dos caminhoneiros afetou intensamente 70% das 905 indústrias catarinenses pesquisadas, com metade delas estimando prejuízos de pelo menos 20% do faturamento mensal.

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Nas contas do governo estadual, o drama é semelhante. Será possível calculá-lo mês a mês, pelos números da arrecadação. Lembrando que o Estado ainda patinava na retomada econômica e vivia a situação de ter ultrapassado o percentual de gastos com folha de pagamento em relação a arrecadação. A previsível queda gerada pelos efeitos da greve dos caminhoneiros piora esse quadro e pode levar Pinho Moreira fazer mais cortes do que os já anunciados.

Causado pelas mãos de milhares de homens e mulheres, com aplauso de milhões de outros, o movimento dos caminhoneiros tem efeitos sobre a economia catarinense comparáveis ao de desastres naturais que vivemos em nossa história. Não à toa, o centro de monitoramento da situação da Defesa Civil tornou-se o palco das decisões de governo. Um comentário lá dentro ilustra o que foram esses dias: a diferença é que os desastres naturais têm um pico e depois a situação vai recuando; neste caso, cada dia de paralisação piorava a situação.