A política de Santa Catarina conseguiu dar um giro de 360 graus no ano que passou. Sim, 360 graus, aquele giro que te coloca no mesmo lugar em que estavas no começo. Em olhar apressado, 2020 termina como começou: o governador Carlos Moisés (PSL) não tem base sólida no parlamento, mas encontra respaldo suficiente para seguir governando e tem a chance de ampliar essa relação no próximo ano.
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É impressionante escrever a frase anterior depois de tudo que passamos em 2020. Lembramos que o ano começou com Moisés contando com cerca de 20 parlamentares em sua base e uma discussão dentro do MDB sobre a conveniência de aceitar o cargo de líder do governo no parlamento. Hoje, ainda não é possível quantificar com quantos deputados Moisés conta, mas ele tem tudo para construir maioria – enquanto o MDB debate se aceita participar do governo com cargos no primeiro escalão.
Mas um giro de 360 graus, embora te deixe no mesmo lugar, não é inofensivo. Muita coisa mudou de lugar, encaixou, desencaixou, caiu fora, durante o movimento. É natural, inclusive as desconfianças que ainda pairam – de lado a lado. Santa Catarina passou por uma crise política única na sua história. O rompimento entre governo e parlamento após a crise dos respiradores foi além de um confronto entre situação e oposição, beirando o institucional. Os dois processos de impeachment abertos, pela primeira vez na história, são as cicatrizes que esse confronto deixou.
O primeiro – do caso dos procuradores – produziu o efeito que nem Moisés e nem Alesc, personificada em seu presidente Júlio Garcia (PSL) esperavam: o vacilante mandato interino da vice Daniela Reinehr (sem partido). Ali parece ter ficado claro o quanto todos erraram a mão em uma briga que expôs Santa Catarina ao vácuo de poder em meio a uma pandemia. Moisés e Júlio Garcia baixaram as armas, conversaram e descobriram que nada impedia essa conversa. Presente nos encontros, Eron Giordani trocou a chefia de gabinete do presidente da Alesc pela chefia da Casa Civil do governador.
O que estamos vendo nestas primeiras semanas de retorno de Moisés ao cargo ainda não é um novo governo. É o governo Moisés como conhecemos em suas ações e decisões, mas com mais cuidado no trato, nos gestos, nos símbolos. É o governo Moisés fazendo política. A marca que fica após este giro de 360 graus da política catarinense em 2020 é essa lição de que boas conversas teriam evitado boa parte do que vivemos.
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Exército de dois homens sós

Do parlamento que se armou para derrubar um governador, restaram apenas dois soldados. Kennedy Nunes (PSD) e Jessé Lopes (PSL) são os únicos que mantém a postura de enfrentamento contra Carlos Moisés (PSL) e a defesa contundente do impeachment. Ambos criticaram a decisão do presidente do Tribunal do Impeachment, o desembargador Ricardo Roesler, de aceitar o pedido do deputado estadual Valdir Cobalchini (MDB) para que o julgamento – marcado para esta segunda-feira – fosse adiado para 2021.
À espera
Quando perdeu Hélton Zeferino, no auge da crise dos respiradores fantasmas, o governador Carlos Moisés foi atrás da deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania) para substituí-lo na saúde. Inclinada a aceitar, mesmo às vésperas da eleição de Lages, ela acabou desistindo após a conversa com o governador e o então secretário Douglas Borba. Muita coisa aconteceu depois disso, impeachments frustrados, conciliações políticas, Carmen perdeu a eleição lageana por 56 votos, etc. A resposta a um eventual convite hoje seria bem diferente.
Pouca chance
Com a derrota no Supremo da tese que permitiria reeleições no comando da Câmara dos Deputados e do Senado, as atenções da política catarinense se voltaram para a possibilidade do senador Esperidião Amin (PP) disputar mais uma vez a presidência. Os primeiros movimentos em Brasília, no entanto, deixaram claro que todo o esforço da cúpula do Progressistas será para eleger Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara e que o apoio no Senado será moeda de troca partidária.
Bateram na porta

Não, o MST não invadiu o gabinete do presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia. Foi uma visita institucional, parte de uma ação nacional e internacional para a importância e necessidade da reforma agrária no Brasil. O coordenador do movimento em SC, Vilson Santin, levou a Júlio Garcia uma cesta com alimentos produzidos nos assentamentos do Estado. São 6 mil famílias em mais de 140 assentamentos no Estado, diz Santin.
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Na corda bamba
Dalmo Menezes (DEM) é o mais longevo vereador de Florianópolis, reeleito em novembro para seu sétimo mandato. O curioso nessa trajetória que começou em 1996 é que nas últimas duas eleições ele conquistou a vaga na bacia das almas. Este ano, recebeu apenas 95 votos a mais do que o primeiro suplente. Em 2016, a diferença foi ainda menor: 84 votos. Mas Dalmo também já viveu o outro lado. Em 2004, foi primeiro suplente porque faltaram 64 votos. Assumiu depois, com a renúncia de Marcílio Ávila, envolvido na Operação Moeda Verde.
Concisas
– Ausente da Alesc hoje, o DEM de Gean Loureiro está flertando com Paulinha (PDT), Felipe Estevão (PSL) e Ricardo Alba (PSL). Flerte correspondido.
– Carmen Zanotto (Cidadania) está entre o DEM e o PL de Jorginho Mello. A reeleição pelo Cidadania, sem coligação, é inviável.
– Carlos Moisés e Júlio Garcia voltaram a se confrontar dias atrás. Não se assustem, era só uma partida de sinuca.
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