Urna tem duplo sentido: pode ser urna funerária – toc,toc,toc! – ou eleitoral…
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Urna eletrônica é a novidade que o Brasil adotou e já sobrevive há mais de uma década, apesar das eternas desconfianças. A “outra” urna é o velho esquife, o “pijama de madeira”, tão antigo quanto a cripta dos faraós.
Em 2000 e 2004, os mortos de Miami elegeram e reelegeram George W. Bush – confirmando no salão oval o presidente que era uma espécie de Undertaker (agente funerário) do Mundo.
Defunto vota no Brasil desde os tempos do Império, quando os candidatos podiam acumular, simultaneamente, mandatos para deputado e senador. E concorrer em vários Estados ao mesmo tempo. Com tanta permissão, que diferença fazia se o eleitor estava vivo ou morto?
A Nova República, inaugurada pela Revolução de 30, foi feita para acabar com a República do Café-com-Leite – São Paulo e Minas dividindo o poder – e com o voto de bico-de-pena.
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Tudo ficou como dantes, o bico-de-pena continuou valendo, desde que anotado pelas penas de Getúlio Vargas, o Gegê – o chimarrão, enfim, na Presidência da República. Vivos e mortos o reconduziram ao Catete, de onde só saiu morto, pranteado pelos vivos.
A força eleitoral dos mortos foi sempre tão respeitada que muitos candidatos incluem em suas promessas a melhoria dos acessos aos cemitérios, a limpeza e a escovação das lápides, flores mais baratas no dia de finados e a instituição de outra data comemorativa – além do 2 de novembro.
Os mortos acham que o “seu grupo” não pode ser desprezado de uma hora para outra, só porque o voto eletrônico modernizou o sistema. Os “muito vivos” podem muito bem manipular os segredos cifrados do TSE – e inaugurar uma urna que admita o tato dos espíritos incorpóreos.
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Claro que o voto eletrônico foi um grande progresso. Seu único defeito é a impessoalidade do voto de protesto: o simples aperto na tecla “branco”. Ou o comando para “anular”. No tempo das cédulas, podia-se escrever uma piada ou mandar todo mundo pro inferno. O que fazer se os dois “finalistas” não nos representam?
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