– O senhor tem conta na Suíça?
– Deus me livre!
– Esteve envolvido no Petrolão?
– Nunquinha.
– Já recebeu propina?
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– O que é isso? Vivo só do meu salário. Ou do meu trabalho como profissional liberal. Está tudo no meu imposto de renda. Pago porque sou pobre.
– Quer dizer que o senhor nunca sonegou imposto?
– Pago todos. Federais, estaduais e municipais.
– A evolução do seu patrimônio é compatível com o seu ganho?
– Meus bens são, na verdade, meus dois únicos males: ausência de ambição e falta de fundos.
– O senhor já recebeu dinheiro da Odebrecht?
– Já. Mas foi uma doação legal, devidamente registrada na Justiça Eleitoral.
– Já pediu empréstimo ao ricaço Joesley?
– Nunca. Não me chamo Aécio Neves.
– Já fez delação premiada?
– Como, se nunca fui acusado de nada nem jamais estive preso?
– Como administrador o senhor nunca “dirigiu” licitações públicas, fraudando a lei?
– Estou invicto nos Tribunais de Contas!
– O senhor é sócio de alguma empresa de lobby?
– Bem, durante a minha infância cheguei a ser “lobinho”. Mas nunca fui escoteiro do lucro dos outros. Nem tenho vocação.
– Já combinou preço de obras com empreiteiras?
– Nunca. Minha honestidade é integral. Não faço acordos com escroques nacionais ou internacionais. O senhor já nomeou parentes?
– Sou totalmente contra o nepotismo. Mulher e filhos só mesmo da porta de casa pra dentro!
– O senhor já foi diretor-geral do Detran com 120 pontos na carteira?
– Não dirijo. Tenho motorista.
– E o senhor já assinou a carteira de trabalho do seu motorista?
– Já. Faço tudo conforme a lei.
– O senhor é ladrão ou já foi acusado de “desvios de recursos públicos”?
– Deus me poupe! Não sou ladrão, nem trambiqueiro, nem estou sendo processado neste momento.
***
– Pois então, lamento muito. O senhor não serve pra ser o nosso novo ministro de Estado. Estamos procurando um ministro do Trabalho condenado em ação trabalhista e um ministro das Cidades que tenha tido sua carteira cassada no Detran local, ou alguém com o mérito de estar sendo processado pela Lava-Jato. Obrigado!
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