É duro viver sem esperanças, num país acostumado a optar pelo “avesso”, pelo lado contrário ao do bom senso.
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As ruas querem o fim da impunidade, as sentenças sendo cumpridas depois do segundo grau de jurisdição? Mofam! Vem aí, como presente do coelhinho, a “presunção de inocência” eterna. Até que aconteça uma das duas coisas: a “prescrição” em cinco anos ou o “trânsito em julgado”. Lá por 2050.
Querem políticos fiéis aos seus partidos? Os trânsfugas providenciaram brechas na lei: a “janela da traição” permite pular a cerca impunemente. Sempre haverá deputados negociando o “passe”, seja em dinheiro ou em cargos.
Entre a banca de verduras e a peixaria do Mercado logo surgirá um novo produto, que se apresentará como defensor dos interesses do povo. Com essa onda de insatisfação nas ruas, o “produto” precisa fingir origens populares e vivo interesse em bem representar o eleitor _ esse eterno insatisfeito.
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A verdade é que, a despeito de sua presumida utilidade, o produto recende a coisa ruim. Exala mau cheiro. Os feirantes tiveram que fazer cursinho de cara de pau para oferecê-lo aos passantes:
— Já verificou como cheira o seu deputado hoje?
— Ainda não. E como é?
— Cinquentinha.
— Cinquenta o quê, reais?
— Dólares, é claro.
— Cinquenta dólares?
— Só pelo “emplacamento” e transferência de partido. Pelo mandato mesmo, serão dois milhões! De dólares. Para a campanha, é claro.
— Pensando bem, o que é que eu ganho comprando um deputado ou senador?
— Tanta coisa…
— Por exemplo?
— Quatro meses de férias, 14. e 15. salários, gabinete com servidores _ incluídos os salários de todos — passagens de graça, combustível, auxílios moradia e paletó, emprego vitalício nas casas do Congresso pra você e sua família.
— Toda a família?
— Bem, no começo entra só você. Depois vão entrando sua mulher, filhos, sogra e sobrinhos. E se alguém espernear, exija o “nepotismo cruzado”. É aquele subterfúgio pelo qual um deputado contrata os parentes do outro, escapando da acusação de nomear familiares… A troca é feita com um colega que repete tudo, ao contrário.
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— Meu Deus! Que país é esse que permite tudo isso?
— Você não sabia o outro nome do Brasil em Brasília? É Lisarb…
— “Lisarb”?
— Brasil ao contrário.