Desde o sábado, quando caiu a Argentina, só se fala no jogo desta segunda-feira, primeira providência para se enforcar o batente, é claro. Se vencermos o aguerrido México, ainda será por uma boa causa.

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Uns torcem, outros “secam”. Até as 11h, quando se inaugura o novo sofrimento, o brasileiro estará autorizado a zoar a Argentina, eliminada na manhã de sábado, com Messi e tudo. E, ela própria, a pátria de Gardel, torcerá para que aconteça conosco o famoso “Efeito Orloff”, aquele do “Eu sou você, amanhã”. Seria a “sua” revanche.

Torcida é substantivo claramente irracional, como devem ser as melhores paixões. Se é para torcer, enviesar a razão, torcendo-a para as cores da nossa devoção, estaremos prontos para ingressar neste mundo de surrealismos.

Foi um golaço ou uma falha do goleiro? O chute foi de craque ou de cabeça de bagre? O nosso time jogou mal ou foi roubado pelo juiz? E o VAR, olho eletrônico, também é ladrão?

Tudo se decide no quadrilátero da tela plana, ou no retângulo do estádio doméstico _ a sala da tevê, onde somos, ao mesmo tempo, o melhor jogador e o melhor técnico.

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A bola é simples e ao mesmo tempo temperamental. Ela gosta de craques que saibam rolá-la com carinho, controlando-a com as faces interna e externa do pé. A bola é vogal. Trata-se de uma letra “o”, com gomos e costuras, em permanente conversa com os nomes mais eufônicos do futebol, alguns deles, como Messi e Cristiano Ronaldo, já excluídos das batalhas. 

O futebol “é a guerra por meio da bola”, ao som retumbante dos exércitos das arquibancadas, aí incluídas as salas e os sofás do doce lar ou do tresloucado bar, com o reforço e a líquida aliança da Escócia.

Em se tratando de coisa tão séria, não deveríamos entregá-la apenas aos técnicos _ esses cabeçudos que se fingem de generais, até que algum bom soldado os desmascare, chamando-os de “burros”.

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Vai dar a caipirinha ou a tequila? Só saberemos bem depois do meio-dia. O futebol é essa lúdica guerra, esse ritual cheio de bandeiras, cantos, exércitos e batalhas. Cheio de risos, caretas, repleto de “ais” e “uis”, além de colecionar a mais fina flor dos palavrões, herdados do Bocage das piadas.

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Que vença o Brasil, para que, ao menos no futebol, nossa auto-estima se mantenha acima do nível do mar. Ao contrário do baixo futebol que se pratica naquele campinho do STF, mais conhecido como “Segunda Turma”.