De repente, parece que a atmosfera se impregnou apenas de más notícias. A beleza natural da Ilha Catarina não se degradou; ao contrário, reluz entre raios, trovões e — por que não? — até um pouquinho de sol…

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Apesar desse brilho — e do que parece ser apenas oco saudosismo — já vivemos tempos melhores.

A atmosfera de outras épocas guardava um certo e inconfundível glamour, um ar de inocência perdida. Os raios fúlgidos daquele mesmo sol, que transpassava o alto das bandeirolas coloniais — em cujo facho levitavam miríades de flocos da poeira“cósmica” — hoje apenas coam notícias azedas, a eterna e abominável crise política, o país afogado na corrupção e no descrédito.

Das ruas de hoje já não ecoam os velhos pregões matinais do amolador de facas e tesouras, do padeiro, do peixeiro, do verdureiro — pau-de-canga atravessado nos ombros, a transportar os verdes e as raízes, os aipins e os “inhames”. Sem falar de frutas, hoje quase raras, como a frutado conde e as romãs.

A Deodoro, segunda transversal da Felipe, chamava-se Rua do Ouvidor, como a que existia na Capital Federal. Mas essa era uma rara “imitação” da metrópole. No mais, a rua, apesar de central, mantinha o seu caráter de sítio urbano com feição de rural. As casas ainda eram geminadas e não dispensavam os quintais, “reservas” povoadas de ovinos, caprinos e crianças.

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À noite, flanavam por suas calçadas as bruxas desgarradas e a cachorrada uivante, acompanhados pelo coaxar dos sapos. As famílias moravam em ruas de nomes mais amáveis e naturais, como “Rua da Pedreira” ou “Rua dos Artífices”. Os bairros se chamavam “Praia de Fora” , “Bairro da Toca” (Prainha) ou “Largo da Princesa” (Benjamin Constant).

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Vivemos a pós-história caotizada daquela cidade-presépio, que floresceu em torno da Matriz e da Praça XV – o Mercado Público como“empório” de víveres e de viventes.

Nem tudo que é “velho” era bom. Num tudo da nova cidade é ruim. Mas toda cidade com superpopulação perde a qualidade de vida e a paz de espírito. O formato municipal de países como a Inglaterra considera “ingovernáveis” as urbes com mais de 500 mil habitantes, com inevitável perda de IDH, o índice medidor da ONU para o desenvolvimento humano das cidades.

Floripa está, perigosamente, nesta fronteira do purgatório: entre o céu e o inferno.

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