Sonhei com um Brasil areado, esfregado e passado a limpo, no ano de 2032. Um país livre de suas cracas morais, sem os vírus Aedes STF e Legisladores em causa própria. Sonhei que o novo presidente do Brasil era uma unanimidade nacional: não sendo originalmente um político, preparara-se para o posto. Como primeiro ministro de um novo parlamentarismo – só fichas limpas no Congresso – o chefe de governo se formara  em Administração Pública e Execução Orçamentária, prestando contas diariamente pelas redes sociais, explicando o gasto e o retorno de cada centavo.

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Renda per capita em alta, o povo brasileiro passou a nutrir plena confiança em suas instituições, depois que a Grande Reforma Política reduziu o número de ministérios para 10 e o de partidos políticos para cinco.

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Sonhei que o Parlamento acabara com a eterna discussão sobre a “prisão em segunda instância”. Agora era lei, exatamente como nos países mais avançados do mundo. Em nenhum país civilizado coexistem quatro instâncias e a conseqüente impunidade.

O tal trânsito em julgado consagra a não-punição e não era essa a intenção da Constituição de 1988 quando erigiu a norma. O país vinha de uma ditadura braba e fazia tudo ao contrário do que parecesse “discricionário” protegidos pelo biombo das quatro instâncias, os abastados se forravam. Com bons advogados, como o ex-senador Luiz Estevão, réus condenados escapavam da execução da pena por gerações – num sistema em que nenhum processo chegava a uma sentença terminativa, tantos os recursos, os apelos e as chicanas.  

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Era com essa “justiça” que pretendiam viver os Gilmares, os Lewandovskis, os Marcos Aurélios?

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Machado de Assis, o pai da grande literatura brasileira, tornou-se um símbolo deste país liberto pelos novos tempos, de cuja obra surgiu um novo lema.  O mestre costumava valer-se de um remédio mágico para combater a penúria financeira em tempos de crise.  “A saída da crise é criar despesas não-inflacionárias” – escreveu o velho mestre numa de suas crônicas para jornal:

– O reino dos sonhos é a minha casa da moeda…

Ou seja: pelo menos em sonho, o Brasil tem jeito.

 

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