O primeiro táxi alado, que funciona tanto rodando quanto voando, está patenteado pela fábrica chinesa Geely e chega já neste mês de outubro ao mercado americano. Será a única solução para o trânsito na Ilha-Capital, engarrafado e transformado num labirinto pela inércia e pela superlativa incompetência dos governos municipais nos últimos 20 anos. Na verdade, o primeiro voo a descobrir o “problema” aconteceu há quase 100 anos. O primeiro diagnóstico foi da lavra do piloto-romancista Antoine de Saint-Exupéry. Hoje, o autor de “Correio Sul” ficaria estarrecido. Seu primeiro choque seria sobrevoar o “novo” Campeche, espécie de Marrakesh em dia de feira:
Continua depois da publicidade
– O que fizeram com esta Ilha?
No saguão do acanhado aeroporto, não muito maior do que o antigo galpão da velha Air France, reencontraria o fantasma do seu amigo pescador, o “seu” Deca, e convidaria o velho parceiro para compartilhar a minúscula cabine, espremidos na nacele envidraçada. Sobrevoariam a Baía Sul, ao longo da Via Expressa, o centro “irreconhecível” da cidade, o retorno beirando o mar, mas pelo lado leste.
– Ainda existe “le Café Nationale” ? – quis saber o escritor, lembrando-se do seu encontro com o professor, humanista e francófilo Mâncio Costa.
– Não – esclareceu o Deca. O velho Café Nacional agora é uma farmácia.
Continua depois da publicidade
– La cité est malade…
A “Cité” que hoje se enxerga do céu continua a encantar a retina do homem. O autor de Voo Noturno seguiria o tapete dourado das dunas, pelo Santinho, da Galheta, da Mole, Joaquina e Lagoa, até chegar ao degradado Campeche, para um sobrevoo ao antigo campo de aviação. Neste ponto perceberia a imensa fila de veículos no trevo da Seta.
***
– O que é “aquilo” ? – espantar-se-ia o aviador-escritor, interrogando o Deca com o auxílio de sua sobrancelha. O velho pescador rebateria, de bate-pronto:
– É jogo do Avaí…
– Quer dizer que quando tem um jogo de futebol os aviões não pousam?
– Pousam. Mas os carros não andam.
Quem sabe agora, com um táxi-voador, as coisas melhorem. Se o Ibama não exigir “licença ambiental” para os veículos com asas.
Leia mais: