Sonhei que o novo presidente do Brasil era uma unanimidade nacional: não sendo originalmente um político, preparara-se para o posto. Como primeiro-ministro de um novo parlamentarismo – só fichas limpas no Parlamento – o chefe de governo se formara em Administração Pública e Execução Orçamentária, prestando contas diariamente pelas redes sociais, explicando o gasto e o retorno de cada centavo.
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“Renda Per Capita” em alta, o povo brasileiro passou a nutrir plena confiança em suas instituições, depois que a Grande Reforma Política reduziu o número de ministérios para 10, de deputados para 150 e o de partidos políticos para cinco, abolindo o Senado.
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Dizem os especialistas – e nem falo no doutor Freud – que sonhamos todos os dias, mas não nos lembramos de todos os sonhos. Só nos lembramos da parte final, vizinha do despertar. É a apoteose do cinema mental, quando o “filme” já está próximo do seu costumeiro happy end. Ocorre que os tempos andam tão sinistros que passei dias sem sonhar. Ou só vi filmes em preto e branco – alguns, apresentados como pesadelos, estrelados por essa turma que trocou a política pela polícia.
Os sonhos em cores, com direito a Oscar de efeitos especiais, são aqueles que acontecem num estado de semi vigília, o cérebro ainda em intensa atividade, o olho na posição REM (movimento rápido dos olhos, da tradução em inglês). Ou seja, o olho ainda vivo, “ladino”, como diria um bom Mané.
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Dos sonhos que me lembro, o melhor de todos foi esse em que o Brasil “era outro”, muito melhor. As grandes cidades amanheceram sem favelas e sem tiroteios. Os políticos fizeram um mea culpa e se regeneraram. Houve até casos de haraquiri, à maneira do resgate japonês da própria honra, o sujeito se auto-estripando, envergonhado da própria conduta criminosa.
Já imaginaram? Um Brasil “limpinho” e asseado, tudo de volta aos seus lugares. Bolso era bolso, cueca era cueca, os propineiros chegaram a fazer fila no Banco do Brasil. E sabem pra quê? Foram lá devolver o “Petrolão” indevido!
Acreditem ou não: no meu sonho colorido, vereadores e deputados fizeram aprovar um projeto de lei, de origem parlamentar, tornando “voluntária” e “honorífica” a sua atividade cidadã. Todos abdicaram dos salários e das mordomias – até mesmo do auxilio-moradia.