Os brasileiros suspiram pelo dia cuja primeira luz nasça sem a mácula de um habitual escândalo. Quando será possível a realização deste sonho?
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Ninguém entende por que este belo país abaixo do Equador se ergue sobre uma terra linda, abençoada por Deus e pela natureza, mas paga o amargo tributo de viver sucessivas vergonhas.
Por que será que o país sempre serve de paradigma para o assimétrico, o descompassado, o anárquico, o ruim, o anormal, o caótico, o enredado, o bizarro, o extravagante, o vergonhoso?
“Se há um jeito torto de realizar as coisas, por que fazê-las pelo método certo?” — parece ser o lema deste bizarro recanto do mundo — ou melhor, deste eterno “país do futuro”, onde o “lema” virou “lama”.
O velho Ulysses ainda tentou produzir uma Lei de quase 500 tábuas, a qual chamou de “Constituição Cidadã”, mas ela saiu tão desalinhavada que os seus próprios construtores marcaram data para a sua correção.
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Para revisar a obra do antigo faraó, chamaram pedreiros de todos os partidos. Os anões, os mensaleiros, os doleiros, os empreiteiros, os petrolões — e, pior: os que só trabalhavam movidos por uma boa propina.
O Senhor viu aquilo e disse:
— Eles constituem um povo e falam uma única língua. Teriam tudo para edificar o mais belo país da Terra. Mas seus representantes são mesquinhos. E orgulhosos. E sem moral. Vendem seu caráter, seu mandato, sua opinião.
Cansado de proteger aquele país tropical dos inimigos da ética, o Senhor resolveu punir os que se diziam “representantes”, mas que só pensavam em si mesmos, amando mais a pecúnia do que a humanidade e o humanismo.
***
Tem solução?
Tem. Resta, talvez, uma nova e humana esperança. Há, como bem ressaltou um respeitável D’Artagnan da democracia, René Ariel Dotti, intervindo ontem como advogado da Petrobrás, “a esperança de que este país renasça do respeito à lei”.
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“A esperança é o melhor sonho do homem acordado”, disse, citando Aristóteles.
Ainda há brasileiros que querem trocar a vergonha pelo bom ufanismo.
Ainda vale a pena esperar pelo “amanhã” se esta cotidiana sujeira estampada nos jornais de cada dia representar uma sério desejo de remissão. Uma autêntica “faxina”.
O “bombril” necessário para polir a democracia imatura em que vivemos.