Nesta semana em que a vida sofre a paralisia da obstrução de artérias — pela esclerose do engarrafamento — a Ilha de SC clama por uma reflexão sobre o seu futuro — que parece refém da obsessão sobre rodas.
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Produto de Deus, a ilha que se enxerga do céu tocou a alma de Saint-Exupéry, o lendário piloto de “Vôo Noturno” e “Correio Sul”. A bordo do seu Bréguet-Latécoère ele seguia o tapete dourado das dunas até aterrissar no Campeche, ninho de seu pássaro, hipnotizado por tanta beleza.
O piloto teria se encontrado no Café Nacional, esquina de Praça XV com Felipe Schmidt, com o professor, humanista e francófilo Mâncio Costa, a quem teria feito uma declaração de amor à Ilha:
— Esta visão seria a última escolhida por aqueles que se descobrissem condenados à cegueira, tal a sua força de se guardar, eterna, na lembrança do homem…
Verdade ou ficção, o elogio seria merecido… Até que o aviador conhecesse a mediocridade dos que planejariam a Capital no porvir daqueles anos de “bela época”. O caos no trânsito está espancando a qualidade de vida da cidade. A qualquer ponto que se vá, a qualquer hora, o fluxo de veículos é lerdo, obturado, irritante. Isso numa cidade de pouco mais de 400 mil habitantes e… 350 mil veículos.
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Quer dizer: contraímos todas as mazelas de uma grande metrópole sendo, ainda, uma cidade de porte médio.
Um Plano Diretor, concebido com o ânimo comunitário dos que se dispõem a construir _ e não apenas “obstruir” — deveria ser a obsessão do Executivo e do Legislativo. Uma criteriosa, desapaixonada e “desideologizada” lei de ocupação do solo, com a expansão da cidade para o Leste. A construção da “Via Parque”, debruando o Campeche até o Rio Vermelho, pela orla, marcaria uma “interiorização” controlada.
Mudança que seria assinalada para privilegiar o transporte de massa _ tanto marítimo quanto ferrocarril. E com o centro da Cidade chegando ao norte e ao sul da Ilha, não apenas por rodovias e túneis, mas pela via marítima.
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Este cenário sugere as “Doze Tarefas de Hércules”, com o prazo de um quarto de século para sua execução — e um “vestibular” marcado para 2035, quando Floripa teria tantos túneis quantos… Já possui o Rio de Janeiro.
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Para essa “revolução” do modal sobre rodas, precisamos de prefeituras que não se preocupem apenas com o recolhimento do lixo e o pagamento da folha. Para isso, não precisamos de prefeito.
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