Baiano ilustre, orgulho da raça, Águia de Haia, Ruy Barbosa hoje anda desencantado em seu panteão celestial. Olha o Brasil com muita preocupação. Será que o Brasil não conta mais com as figuras impolutas que davam “peso” e “mérito” a senadores e deputados, governadores e presidentes? Ruy procura um nome para sufragar e não acha, não encontra resposta para o atual enigma. Um refrão ufanista costumava homenagear a qualidade da massa encefálica do brilhante baiano, reclamando igual brilho para todos os nascidos na “Boa Terra”:
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– Pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto; baiano burro garanto que nasce morto.
Mas o velho Ruy não parecia assim tão inteligente quando, por alguma alquimia do tempo, deparou-se com o noticiário político de um jornal de 2018:
– Novo MDB ameaça não votar mais com o governo, apesar dos seus sete ministérios!
– O que é isso? – perguntou o sábio, desconcertado.
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Tive paciência para explicar o caso do apodrecimento da política nacional, o clima de barganha e a perda dos valores éticos e morais. O velho baiano tonteou ao assistir o representante de um partido que acabava de receber um ministério, “de porteira fechada”, ou seja, com todos os seus empregos e verbas para apaniguados:
– Estamos assumindo o ministério para dar apoio ao governo. Mas isso não quer dizer que vamos concordar com tudo.
Os partidos, aliás, só apoiam os governos para assumir cargos. Chantagem pura. Mas votam contra para mostrar “independência” e extrair mais uma verbinha, mais umas boquinhas estatais, e, claro, mais uns “pixulecos”, o neologismo que poderia ser bem traduzido pela universal propina.
°°°
O autor de Oração aos Moços pediu um copo d’água, enxugou um inesperado suor que lhe brotou da fronte – logo ele, um baiano magrinho, acostumado ao calor – e lançou um olhar súplice em minha direção:
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– Meu filho, certamente estás brincando com este velho. Não me diga que o Brasil de hoje confirma aquele meu amargo discurso: “De tanto ver triunfar as nulidades (…) o homem ainda vai sentir vergonha de ser honesto”?
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