O Brasil vive uma crise moral capaz de fabricar paradoxos chocantes: um ajuste fiscal draconiano corta R$ 14 bilhões do orçamento da União, mas o Fundo Partidário ganha um presente de R$ 1,3 bilhão para forrar o cofre da campanha. O que mais se vê neste Brasil de pouco juízo é baixa produtividade e salários altos, se falarmos daqueles poderes que têm a prerrogativa de legislar em causa própria. Mediocridades recebendo remunerações de mestres pós-graduados, e estes, professores de vários níveis, geralmente recebendo sub-salários.

Continua depois da publicidade

O Brasil vive um momento de inflexão: ou se torna um país ético ou se entrega à selva dos espertos, aqueles que moldam as leis para servir a si mesmos, como esses parlamentares que criaram o orçamento impositivo, usurpando função privativa do poder executivo. Ou seja: criaram o “deputado com cofrinho”.

Ter ética é “saber o que é certo – e fazer”. Trata-se de um valor moral muito superior ao Direito e ao legal, pois existem leis injustas e imorais. Legislar em causa própria, por exemplo, outorgando-se salários astronômicos, já constitui uma gritante imoralidade.

Castas, pensava-se, só existiam na Índia medieval. Os tão famosos marajás. Sabe-se, hoje, que essas castas também existem no Brasil, só que sem turbante: cada casta tem o seu “direito adquirido”, uma “lei” que elas próprias inventaram.

***

Continua depois da publicidade

Cada marajá compara o seu contracheque com o do marajá vizinho, e assim deflagra uma guerra de isonomias, pouco se lixando para o parâmetro da realidade – aquela em que se hospeda o brasileiro médio, um pobre, aquele que paga o salário do ministro e do deputado.

Pior do que a obsessão pelo assalto à carteira da “viúva”, é a alienação desses “isonomistas”, num gritante descompasso com a nação. Quando o debate desce ao nível do “Quanto é que ganhas por mês? Ah, preciso ganhar igual!” – aí, começa o vale-tudo.

Vale mais pra quem pode mais, numa sociedade em que, já dizia o Barão de Itararé, “todos são iguais perante a lei, mas uns são muito mais iguais do que os outros”.

Leia outras crônicas de Sérgio da Costa Ramos