Quando uma única pessoa está endividada, sofre pressões para saldar sua dívida a fim de não cair no rol dos caloteiros. Se o devedor já está na lista negra, padece do chamado “abalo de crédito”.

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Com as nações, não é diferente. Só que quem paga a conta é o povão – com desemprego, impostos e juros altos. Vejam a Grécia: alguns poucos viveram “com classe”, e quem pagou a conta foram os “desclassificados”.

O FMI funciona como “cobrador” dos bancos e dos fundos das nações ricas. Empresta um dinheirinho aos devedores só para que estes os repassem imediatamente aos credores.

O “presente de grego” está assegurado para cada cidadão brasileiro, segundo o critério da dívida “per capita”. De uma forma ou de outra, todos pagam com a ingestão de um copo de fel. E quem não tem dinheiro, paga com o seu emprego.

A cartilha do FMI é a mesma, desde que foi criado, no pós-II Guerra. Determina aqueles mesmos remédios amargos, que conhecemos nos últimos 50 anos: aumento da carga tributária e das tarifas dos serviços públicos, superávit primário, poupança à parte para o pagamento da dívida e dos juros.

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Como renascer? Como gerar empregos? Como aumentar o PIB para honrar a mesma dívida? Depois de ter os seus dutos lacrimais esgotados pela crise, com o falecimento de sua classe média, ao Brasil ou à Grécia restará… dançar um samba ou o “Zorba”.

Não seria o caso de uma trégua dos credores, para que a galinha voltasse a botar os seus ovos?

Essa seria a lógica cristã. A do FMI é deixar o devedor de “tanga”, antes que os credores comecem a franzir o cenho.

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Nesse filme de terror, movimentam-se os advogados das velhinhas do Kentucky, que aplicaram em papéis da dívida brasileira, rendendo juros irreais.

Na hora da moratória, os advogados falarão em nome dessas velhinhas e da penúria em que ficariam, com um calote. Ora, o que não dizem é que essas mesmas velhinhas foram seduzidas pelos “investidores” do mercado, espertalhões remunerados para garimpar rendimentos delirantes “around the world”. Mesmo os menos confiáveis, desde que rendam 10, 15 vezes mais que os títulos do Tesouro americano, remunerados a módicos 1% ao ano.

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Não se trata de um típico investimento de risco?

Pois quando o risco se materializa, chamam o carrasco (FMI) para salvar os bancos. E as velhinhas que especularam com os seus fundos.

Ah, velho mundo sem juízo…

 

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