Apesar das depurações civilizatórias da Lava-Jato, o Brasil ainda pode surpreender o mundo.
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Em que outro país existiria uma bancada de “deputados-presidiários”? Parlamentares condenados que ainda reivindicam o direito de saírem da prisão durante o dia para “trabalhar” na Câmara, legislando? Haverá aberração maior do que deputados já apenados e recolhidos à cadeia mantendo o direito de comparecer à sessões deliberativas e de votar, por exemplo, a reforma do Código Penal ou da Lei de Execuções Penais?
Deputado presidiário e legislando. Haverá maior jabuticaba no universo de todas as bizarrias?
Muito mais desmoralizante do que a impunidade do “trânsito em julgado” é a instituição do “legislador bandido”. Um condenado simplesmente não tem mais a titularidade de seus direitos políticos. Nunca se viu, em país algum, deputado condenado e “trabalhando com leis”.
Outra: que tal começar uma reforma política de verdade, capaz de consolidar a fidelidade partidária, que preveniria as aberrações dos partidos de ocasião e dos profissionais da traição?
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No tempo em que os bichos falavam – e os políticos prezavam pela decência – virar a casaca, como fazem os colarinhos engomados de hoje, em troca de espertezas, era condenar-se a uma “auto-degradação moral”.
Os que se vendiam, trânsfugas da própria honra, tinham vergonha de circular pelas ruas, incapazes de dividir um café com um amigo ali no Senadinho, tribunal popular que administrava o implacável pêndulo da moralidade pública.
Ficou na memória de Floripa o caso de um deputado estadual que vendeu o seu voto numa eleição para a Mesa da Assembléia Legislativa. Não teve mais sossego. Era apontado nas ruas como um Joaquim Silvério dos Reis:
– Lá vai o Judas! Dizem que se vendeu por 30 dinheiros e uma vaguinha no Tribunal de Contas.
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Mal podia caminhar ao peso da própria traição. Só não recorreu a uma árvore para “enforcar-se” porque sua moral pessoal não comportava um haraquiri – a “honra de dar a vida em troca da vergonha perdida”. Mas sua vida desandou, não conseguia companhia para um simples cafezinho, um bate-papo vadio na esquina do Ponto Chic.
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