Houve época em que o Brasil era o melhor dos emergentes em infraestrutura. E a Índia era o pior. Hoje, os indianos se horrorizariam com as estradinhas brasileiras, mesmo as do Sul e Sudeste, esburacadas ou dominadas pelo matagal – sem falar nas rodovias amazônicas que se desfizeram, tragadas pela lama, entregues ao mais absoluto abandono. As administrações das cidades e dos Estados mantêm a tradição de fechar os olhos à raiz dos problemas de mobilidade urbana e de infraestrutura. É como se esperassem pelo milagre do manto de cristo – que, da infância à idade adulta, crescia junto com o corpo do Nazareno.

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Não há alívio que resolva o nó górdio produzido no “pescoço” de Floripa, com os fluxos empilhados nos acessos das BRs 282 e 101. A duplicação do acesso da Via Expressa Continental e a rápida conclusão do anel rodoviário seriam o único alívio. Duas obras que deveriam estar prontas há 10 anos. Interessante: o governo que, com agências “reguladoras” como a ANTT e outras tartarugas, adia obras imprescindíveis é o mesmo que, numa canetada, cria incentivos para a venda maciça de automóveis. É querer ministrar o veneno junto com a vacina.

Manutenção de estradas é disciplina inexistente no currículo administrativo dos governos: depois que a banda de música da inauguração recolheu tambores e clarinetes, e os possíveis votos foram contabilizados, as rodovias ficam entregues aos humores e ao desgaste do tempo. Parece que o departamento de “tapa buraco” não rende muito em “recursos não contabilizados para as campanhas”, ou, bem traduzindo, as “malas” ficaram rarefeitas – ainda mais em tempos de Lava-Jato.

Falando em trânsito: mesmo depois de um maior rigor e indiciamentos por flagrantes de embriagues, com réus levados a tribunal do júri por homicídio, as estatísticas não melhoraram muito. Em alguns Estados, o número de mortos caiu 2,4%. Mas esta redução não foi homogênea: em oito Estados os índices até pioraram ou se mantiveram estáveis – entre eles Santa Catarina, Minas e Mato Grosso do Sul.

Não se sabe bem porquê um Estado como Santa Catarina – situado entre os mais qualificados em educação essencial e com os mais elevados índices do medidor social da ONU, o IDH – não consegue levar boa civilização para o seu trânsito. Parece que a educação catarinense não chegou às estradas.

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