Acredite: há na Mesa Diretora da Câmara um departamento que faz a contagem diária dos deputados e seus respectivos partidos. Os números variam quase diariamente, por conta das migrações de um “acampamento” para o outro. O parlamentar que de manhãzinha pertença ao PP ou ao PR, de tarde pode estar em qualquer outra das 35 sopas de letrinhas que compõem o volátil campo partidário deste inenarrável Brasil.

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O PMDB, por exemplo, não chega a ser um partido: é um hotel de interesses variados. Dono de sete ministérios e da própria Presidência, não se considera governo. São instituições com a mesma credibilidade daquele joguinho de “figurinhas ao bafo”, brincadeira de todas as infâncias.

Quem um dia já teve 10 anos se lembra bem: mãos postas em concha pressionavam o verso das figurinhas de álbuns esportivos. Se o vácuo resultante tivesse força para virá-las, o autor da proeza “ganhava” a figurinha. Nesse jogo valia tudo, até o cumprimento das regras. Mas prevalecia sempre a “interpretação” do mais forte – assegurando que a figurinha dera uma “cambalhota”, ainda que ela mal houvesse se mexido.

Assim são os estatutos e os mandatos eletivos no Brasil. O sujeito se elege e depois dá uma banana para quem o elegeu. Funda um partido novo e leva junto o mandato.

Ora, não há quem não conheça a fórmula capaz de erradicar o “petrolão” e a sua despudorada freguesia: basta que o Congresso se autodiscipline com a camisa de força da fidelidade partidária. Mas, ali, quem quer ser fiel?

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Os novos partidos chegam para manter a aventura e o “comércio” funcionando, nesse assombrado mercado habitado por seres de altíssima avidez e baixíssima credibilidade.

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Aqui, todos os partidos são “partidos”. Multiplicam-se em facções e sublegendas, prontos para tríplices e quádruplas alianças – afinal, vale tudo para salvar o Brasil. Ao fundar um partido político, o que menos importa é o seu “programa”. O candidato surge primeiro. Depois se arranja um nome de partido para “vestir” a candidatura. O “batismo” pouco importa. E o programa deve ser “politicamente correto”, a favor dos “sem-alguma coisa”. Os “sem-uísque”, os “sem-mulher” ou os “Sem-Vergonha” – como essa turminha que, em quase todos os partidos, adora um pixuleco.

 

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