O que fazer num país cujo Parlamento só vota o que lhe apetece para ganhar o voto da reeleição?

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Há, nestes trópicos caricaturais, uma instituição chamada “base aliada”. Nada mais desafinada do que a tal da base aliada. Uma “carniça” na forma de cargos oferecidos pelo governo, em troca de apoio legislativo.

A cada votação, os descontentes apresentam uma nova conta, e deixam os “aliados” na mão.

Nada amedronta essa base volátil, movida a emendas ao orçamento e “boquinhas” no maior ministério do planeta: 40. Isso num país de 35 partidos…

 

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Nem mesmo a máscara do “Anonymous”, onipresente nas ruas naquela grande revolta de 2013, intimidou essa “sociedade por quotas ilimitada” que se organizou no Congresso e mantém qualquer presidente da República (ou seria regente da Ópera?) como seu indefeso refém…

Se fosse fundar de novo a República, com base neste movediço alicerce de “aliados”, o marechal Deodoro jamais usaria a espada, mas o talão de cheques. Ou a conhecida mala de dinheiro, quando não fosse o hoje “normal” apartamento forrado de notas.

E veríamos no dólar-papel um herói equestre, empinando o seu alazão, o doleiro Alberto Youssef, berrando:

– Propina ou morte!

Vivemos numa República ou numa Ópera? Do alto do seu humor desconcertante e cáustico, Eça de Queirós ironizou o nascimento da República brasileira, em novembro de 1889:

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– De repente, o marechal Deodoro fez um  sinal com a espada – e pronto! Inaugurou-se uma República novinha, retratada num quadro de Pedro Américo.                                  

***

Nesta República, as palavras  adquirem inusitados significados em relação à sua semântica universal. A palavra “Oposição”,  por exemplo. No mundo inteiro ela designa aquela parte do estrato político que se opõe ao governo _ mas não ao país. No Brasil, a oposição é tão fluida e mutante que tanto pode estar no “apostolado” como “no lado oposto”. De qualquer maneira, ao lado desse bizarro MDB, um partido sempre tão dominante, para o mal ou para o pior. De dia é governo, de tardinha, oposição. E para voltar a ser governo, depende do número de cargos que estiverem à sua disposição.

 

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