A epidemia de luzes tem o bom propósito de iluminar este fim de ano, como uma espécie de consolo pelo “cinza-escuro” que predominou nesse moribundo 2017.
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Como está bela e feérica a Floripa do Natal, com suas luzinhas derramadas pelas vitrines, pelos edifícios, pela ponte – e até pelas árvores, como se a natureza transformasse raízes em tomadas. Esse enfeite luminoso cresceu e se multiplicou como uma nuvem mundial de gafanhotos – presentes nos cinco continentes do planeta Terra e até na “louça” de alguns banheiros psicodélicos. Só falta o sujeito se acomodar em algum vaso sanitário iridescente, todo pontilhado de luzinhas.
Elas começaram trepando no tronco das árvores do Central Park, em Nova York – e se derramaram pela Quinta Avenida e suas paralelas. Depois, migraram para o Hemisfério Sul, como uma nuvem de andorinhas à pilha.
E ganharam os galhos da figueira, o frontispício dos prédios, as torres das igrejas oitocentistas, o perfil dos palácios e das mansões, a silhueta das pontes, o alto dos morros e até o tijolo salpicado dos barracos da favela – tornando verdadeiro o famoso verso de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas em “Chão de Estrelas”.
As luzinhas do Natal mais parecem uma espécie de sarampo alado, metástase de vagalumes, uma poeira de brilhos. Besourinhos alpinistas que se reproduziram fora do cativeiro chinês. E, como não usam camisinha, multiplicam-se numa velocidade maior do que as baratas e os pernilongos.
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As luzinhas foram se tornando rebeldes como as aves de “Os Pássaros”, suspense de mestre Alfred Hitchcock. E ameaçam se transformar em adereços pessoais, brincos, pulseiras, piercings, balangandãs e até próteses dentárias. Já imaginaram um sorriso só de luzinhas?
Falta pouco para que estes colares iluminados conquistem o pescoço das peruas, os olhos dos gatos, o rabo dos cachorros – assumindo o papel de ágeis faróis pendulares.
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Não haverá surpresa até se na ceia de Natal – num domingo à noite! – as luzinhas surgirem na lapela dos garçons, nalgum orgulhoso chester de peito aceso ou nas fosforescentes pernas de um peru.
É tanta luzinha que não quero nem ver a conta da Celesc no fim do mês. Ou será que até as luzinhas natalinas aprenderam a “fazer gato”?
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