É bom saber que eleição não tinha “horário político obrigatório”, no rádio ou na tevê. Aliás, nem havia tevê. As “chapas” eram impressas e distribuídas pelos próprios candidatos. A campanha acontecia nas ruas, em comícios ou em “visitas” aos “correligionários” – isso, nos tempos em que os bichos falavam e os políticos não roubavam.

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“Pra governador” ou “Pra vereador – Fulano de Tal”, e seguia-se um nome “Ficha Limpa”, num tempo em que a editoria de Polícia não ficava na página de Política.

O “passageiro” era o belo tipo faceiro que viajava ao seu lado. Sabonete era Eucalol, a “Emulsão de Scott” não era um uísque escocês, mas um fortificante para crianças. Piquenique era em Sambaqui ou na Lagoa da Conceição, “coleando” estradinhas de terra.

Houve um tempo em que nem se precisava estudar o nome do candidato. Eles eram nativos genuínos, todos “gente da terra” e podiam exibir diplomas imaginários de “Manezice”. Não se zangue, ou “não se arrenegue”, o amigo que acabou de chegar, como turista ou morador adventício. Há tempos e maneiras de “se naturalizar”.

Falava-se Manezês, principalmente na Lagoinha e no Canto da Lagoa. Houve até um teste de linguística, aplicado a um candidato que se pretendia “Mané”:

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– Diz aí cinco palavras na língua do Mané, bem “digerinho” e sem muita “pensão”:
– Essa é fáci, fáci… Mandrião, inticar, disconchavo, biacu, arrenega e catrefa.
– Catrefa…? Essa daí só Mané di verdade… Nem eu sabia, siô.
– É aglomeraçã, comício, côsa de político…
                                               
Verdade também que um voto podia valer uma dentadura ou um carrinho de brita, mas não havia “Fundo Partidário”, nem campanhas milionárias. Partido político não era “um bom negócio”. A prova é que seu universo não passava de meia dúzia e os seus caciques não enriqueciam assim “num upa”, do dia para a noite.

Não havia reeleição e, assim, ser político não era exatamente “ter um emprego”. O mundo parecia mais asseado e limpo, ou seria o contrário? A imprensa, modesta e engajada, não denunciava… Ou os orçamentos, parcos, não enfeitiçavam os colarinhos brancos?

É preciso, contudo, não perder a esperança. Um dia já não haverá mais a Lava-Jato ou esse esporte olímpico de assalto ao erário…

Leia mais notícias na coluna do Sérgio da Costa Ramos