Quarta maior democracia do mundo em número de eleitores, o Brasil conhece o resultado de suas eleições majoritárias em mais ou menos três horas.
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Na segunda do mundo em “presença” nas urnas, os EUA – onde o voto não é obrigatório e as abstenções beiram os 50% -, a eleição não é eletrônica. Em nome da segurança e do temor pelo desafio dos hackers.
A primeira democracia em massa eleitoral – com sede na demograficamente bilionária Índia – costuma demorar mais de um mês na apuração de suas eleições gerais, nas quais utiliza o papel e a caneta – e um método jurássico de aferição do voto: a contagem é feita no “dedo” e no “ábaco”, o instrumento artesanal utilizado para as quatro operações, desde a Idade Antiga.
A Índia é, hoje, uma das primeiras potências da informática mundial, mas não chega a ser páreo para a “Infoeleição” brasileira. Dividida por um verdadeiro labirinto étnico, cultural e religioso, a Índia islâmica e budista vive sua paquidérmica democracia, valendo-se de uma contabilidade contemporânea do primeiro milênio da humanidade.
No Brasil, o show tecnológico das eleições leva a dois regozijos e a um lamento: o povo e o método de expressão eleitoral funcionam como uma orquestra afinada. Ou seja, a manifestação de vontade e o meio desse manifesto, a urna eletrônica, são marcos mundiais de eficiência: 130 milhões de votos apurados em 3 horas e meia. Falta inventar a “Eleição-Instantânea”. O que precisa melhorar, substancialmente, são os políticos e os partidos.
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Sonho de uma noite de Inverno? Talvez. Há 50 anos, a apuração brasileira seguia o método indiano. O “escrutínio” levava semanas. Era quase uma nova campanha, com impugnações e levantes. A contagem de votos era novela que durava pelo menos uma semana, ao embalo dos “dobrados” programados pela sonoplastia das emissoras de rádio de cada partido.
As apurações tinham algo de marcial: o fundo musical. Hinos, rufar de tambores e marchinhas de Carnaval – isso, se a vitória fosse do partido do dono da rádio. Caso contrário seguia “a programação normal”, esperando os boletins oficiais da Justiça Eleitoral, na expectativa do veredicto amargo.
Hoje o “método” está aprovado, é “moderno”. O que carece de modernidade são os políticos. Pode-se até aceitar a exigência de que a máquina precisa registrar o voto eletrônico, imprimindo-o. Mas no Brasil de hoje o problema não são os votos, são os votados.
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