Sempre se soube que há mais de um Brasil: o belo país que rebrilha ao sol, nos seus raros tempos de bonança, ou o que vive sob o véu negro das sombras da sinistrose.

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Ao sol, Floripa resplandece nas manhãs abrasivas deste verão, o cocuruto das montanhas à mostra, o espelho das baías refletindo a beleza da Ilha descrita por Virgílio Várzea como “o recanto de terras e águas  mais belo do universo”.

À sombra, a cidade experimenta o breu de se ver vítima da violência urbana e de estar entregue ao drama do imobilismo, com suas obras mais urgentes caminhando com a lerdeza de tartarugas centenárias, podendo levar mais de uma geração: há 20 anos se fala numa via expressa até o Aeroporto Hercílio Luz e num novo terminal aeroportuário.

Ao sol, o país trabalha, cresce, planta, colhe grandes safras de grãos, exporta (modestamente) e redistribui renda.

À sombra, o governo naufraga na própria incompetência, incapaz de providenciar infraestrutura e, por exemplo, segurança nas fronteiras, abertas à infâmia do narcotráfico.

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Ao sol, o país sonha com políticos mais corretos, leis mais consentâneas com a benção da civilização – como a da Ficha Limpa, que, pelo menos, ameaça incomodar os perseverantes fichas-sujas.

Mesmo leis moralizadoras parecem ter eficácia limitada. Não há “encrencado” com a Lava-Jato que não esteja saindo da cadeia para gozar férias em casa, sob os auspícios de Gilmar Mendes. Ou seja, saindo da sombra para o sol.

Ao sol, as generosas safras de grãos, um presente de Deus – todos os anos um novo recorde – não conseguem chegar aos portos estrangulados, empacando em gargalos e ciladas, emboscadas por estradas que mais parecem um sumidouro.

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Ainda ao sol, um país de cidadãos honestos sua e trabalha, produz e paga cada vez mais impostos.

À sombra, o Tinhoso convida os políticos das alianças mais escusas ao sempre atual exercício da traição:

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– Vamos sair deste partidinho e fundar o nosso?

É mais fácil fundar um partido postiço do que inscrever uma nova empresa na Junta Comercial.

“Tudo é comércio”, pensam certos políticos, em cujo mundo raramente faz sol.

 

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