George Stevens, o criador de “Shane”, ficaria encantado. E Elia Kazan, diretor de “Vidas Amargas”, adoraria adotar o título em alguma de suas obras primas: “Os Corruptos também Sofrem”, com copyright dividido, entre Stevens, de Shane, e os condenados da Lava-Jato, os “perseguidos”, como se autointitulam.

Continua depois da publicidade

Faz todo o sentido, gente. Pensam que vida de corrupto é fácil? Que é só pegar o “ramalhete” de dinheiro e pronto? Ir gozar a vida e um mandato novo, com direito a novas emendas do orçamento?

Ser corrupto é padecer no Paraíso. É ser descoberto pela imprensa enxerida e golpista, que adora fazer escândalo de tudo. Que gosta de maltratar e expor ao ridículo nossos ladrões mais honestos e mais tradicionais.

Confira também a coluna de Cacau Menezes

Corrupto também sente vergonha. Principalmente de aparecer no jornal com o epíteto de “ladrão”. E – suprema desonra diante de filhos e netos – figurar em alguma fotografia usando o infame “bracelete”: algemas niqueladas.

Continua depois da publicidade

Corrupto também tem coração. Tem filho, tem neto, tem pai e mãe. E tem sentimentos: de amor, ódio, vergonha, constrangimento.

Esse pessoal da imprensa “marronzista” acha que os que roubam merecem ser algemados. Ledo engano. Roubar é verbo conjugado no Brasil desde D. Pedro Álvares Cabral – e nunca se soube que tenha sido banido como verbo avesso aos usos e costumes da “Terra Papagalis”.

Está tão disseminada no Brasil a transgressão ao oitavo mandamento das tábuas de Moisés – o “Não furtarás” – que já se tornou uma verdade quase bíblica a suposição de que, aqui, o ladrão já nasce feito.

***

Falta institucionalizar o furto. Nunca se viu palavra mais cultivada em discurso de político do que a tal “transparência”.

Continua depois da publicidade

Pois, por que não ser totalmente transparente e avisar logo ao eleitor que alguns dos atos do seu representante poderão parecer corruptos, mas não são. Que mal faz ficar com um percentual daquela emenda ao orçamento, destinada a uma ONG fantasma? Ou votar um bom reforço ao “Instituto” do partido? Ou fazer a caridade de guardar malas de dinheiro vivo no apartamento de um amigo?

– Afano, sim, mas sou sincero. E sabe o que mais? O povo a-d-o-r-a ser roubado. Adora. Tanto que nunca se cansou de reeleger o Paulo Maluf,  nosso maior ídolo e santo padroeiro.

 

Leia outras crônicas de Sérgio da Costa Ramos