Democracia precisa de um permanente regador. E de liberdade de associação, opinião e expressão. Respeito às minorias, poderes harmônicos e independentes, imprensa e eleições livres. E não somente eleições periódicas. Mas a necessária alternância no poder. Quando falta algum desses pressupostos, caímos na ditadura da intolerância. Com os seus “profetas” querendo se vingar da imprensa livre, como acontece com os regimes, à esquerda e à direita, que insistem em “regular a imprensa”. Cabe aos cidadãos a vigília para que essas corruptelas não voltem ao cenário da vida política, zelando pela saúde daquelas plantinhas que fornecem o pólen da democracia ao ar livre.
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Bertold Brecht (“A Ópera dos Três Vinténs”, “Galileu, Galilei”, “O Círculo de Giz Caucasiano”), o dramaturgo alemão, farejou o nazismo como uma das maiores tragédias da humanidade – e convocou os cidadãos do mundo a combater todas as tiranias. Para Brecht, o assassinato das liberdades a todos devia incomodar, mesmo que a violência pareça afetar apenas a um vizinho. “No primeiro dia, o Estado leva o seu vizinho, por ser judeu. E você finge que não viu. No segundo, levam um comunista. E você fica de braços cruzados. No terceiro, levam um jornalista, por não dizer as verdades oficiais – e você, ainda assim, acha que não lhe diz respeito. Até o dia em que eles vem buscar você”.
Matar as liberdades civis é o primeiro atalho para a noite institucional, como já vivemos no passado. A primeira liberdade a merecer todo nosso zelo, no Brasil de hoje, é a de imprensa. Num país em que o Judiciário ainda luta com as próprias limitações funcionais, assoberbado por demandas acumuladas, e em que a classe política vive um grave momento de desconfiança popular, é a imprensa que atende às primeiras necessidades da sociedade, que clama por vigília e reparação.
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Não é legítimo que a imprensa denuncie – e ela mesmo prejulgue, posto que esta missão, a de distribuir Justiça, cabe ao Judiciário. Mas a vigília democrática é e será fundamental para que esse regime, tão cultivado, não se transforme numa decepção para o povo.
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