Votar é facultativo nas democracias graduadas. Naquelas que ainda são “crianças”, e que vivem fazendo pipi na cama, o voto precisa ser exercido como uma espécie de refeição institucional. Só a sua repetição garantirá o crescimento e a consolidação desse ritual que é o próprio penhor da liberdade cidadã. Só o voto salva. Trata-se de um processo sem fim, um eterno aprendizado. Eleição é a eucaristia das missas democráticas, é o pão e o vinho dos regimes baseados no pluralismo partidário, no voto livre e universal, na alternância do poder e na plena liberdade de imprensa e de opinião.

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O voto é, foi e será o grande argumento do eleitor. Descarregue-o contra os que só elogiam o Sol se ele pode trazer a seca – e, com essa desgraça, a conquista do voto dos humilhados. Contra os que exaltam a chuva somente se ela pode produzir uma trágica inundação – ou contra aqueles que só enaltecem a democracia se esta for a “sua”, não a de “todos”.

Democracias plenas são regimes plurais, que admitem o voto até “contra si mesmas” – embora o próprio eleitor deva proteger-se daqueles que votam para exterminá-las, elegendo os que têm o compromisso de perpetuá-las.

Por isso o traço mais saudável das democracias é a alternância no poder. Desconfie daqueles que apostam num poder ad aeternum ou na apologia das ditaduras. Contra qualquer desses tipos, olho vigilante. O Brasil precisa, agora, de uma lei eleitoral duradoura, quem sabe na esteira de uma reforma política que consagre o fim do voto proporcional e a adoção do voto distrital, com a consolidação de partidos verdadeiros – e não virtuais. Este é o grande sonho do eleitor brasileiro. Um dia ainda chegaremos lá.

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O Brasil vota num dia de muitas lições. Eleição é sempre bom, é um caminho de luz e aperfeiçoamento democrático, pois a democracia é um processo jamais acabado – nela, sempre haverá lugar para a revitalização e a depuração. Veremos neste domingo, com orgulho, o Brasil urbano e o rural, o Brasil amazônico e o litorâneo, veremos um Continente votando para eleger os seus representantes, num espetáculo de livre e saudável cidadania como poucos países do mundo podem exibir. Eleição é a própria fotossíntese da democracia: regar bem a plantinha é missão de todos os jardineiros do voto. Se tudo acontecer dentro “da paz do Senhor”, vença quem vencer, haverá esperanças para a vida democrática.

 

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