É sempre o eleitor. A Terra Prometida fica sempre do outro lado do deserto. E depois do candidato eleito ter alcançado o seu objetivo, o primeiro a ser espalmado para escanteio é o cidadão que passou a procuração ao “representante”. Em vez de se materializar a promessa de “mais emprego”, “renda mais bem distribuída” – ou, vá lá, “um belo chafariz na praça” – fica-se sabendo que tudo que o deputado conseguiu foi ser apanhado com a cueca recheada de dólares.

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Vale quase tudo. Prometer uma torneira de Coca-Cola nas cozinhas do povão. Ou mais “emprego sem precisar trabalhar”, “água fresca” e  “estacionamento” para todos. Só não vale prometer que “não trocarei de partido”, ou que “não aceitarei petrolão” – porque, afinal, compreende-se que ninguém é feito só de virtudes. O verbo “prometer” se confunde com o “endividar-se” – e quase todos os candidatos consideram que as promessas, como as dívidas, foram feitas para “rolar”, não para pagar.

Promessas de salvação nacional quase sempre resultam em desastre. Os mais velhos devem se lembrar da campanha do “Ouro para o Bem do Brasil”. A cruzada aurífera lançada para apoiar a dita “Revolução de 1964” serviu apenas para que, anos depois, proliferasse nas duas casas do Congresso aquele circo habitual, conhecido por “Comissão Parlamentar de Inquérito”.

No puçá desses rigorosos “inquéritos”, não boia um único e escasso culpado pelo “sumiço” dos anéis da família brasileira. Em Brasília, reza o velho ditado do Barão de Itararé, “Não há inocentes. Só cúmplices”. Os deputados só não prometem o fim da infidelidade partidária. Afinal, ser infiel é da própria natureza da carreira. É próprio da peçonha do escorpião.

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Os candidatos nem precisariam prometer o Nirvana, o Céu na Terra, ou um Canaã de sombra, água fresca, leite farto, energia elétrica grátis e celular pré-pago para todos. Soaria falso. Bastaria que prometessem coisas bem chinfrins, ninharias, coisinhas à toa. Aquelas coisas triviais que nunca funcionam “neste país”: salário condigno, menos impostos, ônibus no horário, trânsito fluido, vagas no estacionamento, água na torneira e calçada sem cocô de cachorro.