Dia 10 de dezembro Santa Catarina sentirá os 20 anos de ausência do poeta da Catequese, cujo “physique-du-role” era talhado para dizer um verso do alto de uma coluna, como uma estátua grega e loquaz. Santa Catarina deveria erguer todos os dias um monumento em homenagem aos seus dois grandes poetas, o negro e o louro, ícones da arte do bem criar.

Continua depois da publicidade

Está viva em minha memória cena do viking que habitava o poeta de Timbó, em “simbiose” com o vate simbolista, declamando o negro sublime pelas ruas mansas de Floripa: “Ah!, plangentes violões dormentes/ Mornos soluços ao luar/ Choros ao vento…”

Um cruel aneurisma roubou-nos o teu carisma, poeta. Está fazendo 20 anos que, precocemente, aos meros 60, partistes para as dimensões do espírito. Agora sabemos o quanto te devemos. Foste, poeta, um competente pregoeiro dos produtos poéticos, um humanístico mercador de palavras:

— Procuro desenhos dentro das palavras – dizias.

“Sonoros desenhos táteis/ Cheiros, desencantos e sombras…” “O ofício do poeta é fazer arqueologia com as palavras, cavoucar novos e velhos sentidos, penetrar no indizível, fazer emergir significados”.

Continua depois da publicidade

Lindolf Bell, poeta maior, cumpriu uma trajetória sui generis na poesia brasileira. Estreou ao ar livre, no Viaduto do Chá, em plena paulicéia desvairada. Começou no topo da sua vida pública, tornando-se conhecido em todo o Brasil. Depois, por opção “telúrica”, recolheu-se à sua amada Santa Catarina – aos  vales queridos da sua Blumenau e da sua Timbó.

— O lugar da poesia é estar onde possa incomodar… onde possa intrometer-se no epitélio das pessoas.

E até vergastar o establishment, porque poeta bom é poeta contestador.

É muito difícil, raro até, um poeta “fazer-se” popular. Lindolf Bell deu-se a conhecer declamando nas praças públicas, nos estádios, nas universidades e nas portas de fábrica. Amplificou o público de seus poemas em outdoors, camisetas – os “corpoemas” – e seus criativos cartões postais.

Ninguém neste Brasil levou a poesia a tantos e tão diversificados lugares e caminhos, nenhum outro poeta foi tão sofregamente apaixonado pelo seu ofício do que o Viking de Timbó.

Continua depois da publicidade