Está chegando o dia que, por emblema, tornou-se a data “registrada” para as eleições nacionais, em anos pares, desde os tempos em que vigorava a democracia do “bico de pena”. Neste ano será dia 7, mas será outubro, mês em que o Brasil se encontra com o seu assustador espelho.

Continua depois da publicidade

Na República Velha as eleições eram falsas, mas a representação era verdadeira. As eleições não prestavam, nem eram confiáveis, mas os deputados e senadores pareciam honrados. Ao contrário do que sucede hoje: as eleições são um exemplo de organização, com um sistema totalmente informatizado, aparentemente infenso a fraudes. Mas o “cardápio” oferecido à Nação…

Ou seja: temos um bom sistema eleitoral e os piores eleitos. O povo brasileiro usufrui do privilégio de contar com o método mais aperfeiçoado de eleger de forma honesta um… facínora, um ficha-suja, um amigo do alheio.

***

Eleições são reflexos dos momentos de maior ou menor aperfeiçoamento institucional dos países, dependendo do seu “momento” político, social e econômico.

Continua depois da publicidade

Do que nunca se ouviu falar foi das eleições do ponto de vista das crianças – testemunhas involuntárias das paixões do mundo adulto. Nunca alguém se preocupou com o coração dos “não-eleitores” – as crianças – às vezes assustadas com o arrebatamento das posições e o duelo dos candidatos. O que devia ser um aprendizado democrático muitas vezes se transformava numa rixa entre famílias.

Minha memória guarda algum material paleolítico das eleições dos anos 1950 – quando o 3 de outubro foi consagrado como “o dia das eleições”. Era tempo do PSD contra a UDN – o PTB, de Getúlio Vargas, como fiel da balança.

As comemorações eram quase  “futebolísticas”, com passeatas, carreatas, rojões e fogos de artifício – num tempo em que as torcidas acreditavam no “produto”. Hoje, predomina uma nova abulia, que é a total ausência de vontade:

– Se o eleito não roubar, já está bom…

***

Os garotos das famílias “vencidas” sofriam com o barulho dos vitoriosos – rojões, foguetes de assobio, busca-pés. Era mais ou menos como ser Anne Frank, trancafiada naquele sótão de Amsterdam. Filho de pessedista juramentado, recolhia-me ao quarto como quem buscasse abrigo numa casamata. Logo nossa casa seria alvo de toda a artilharia pesada da UDN, cuja pontaria teria causado inveja às tropas dos generais Patton e Bradley, na invasão da Normandia.

Continua depois da publicidade

 

Leia outras crônicas de Sérgio da Costa Ramos

Confira também as publicações de Cacau Menezes