O país inteiro está à espera da grande epifania: a revelação das “confissões” de Antonio Palocci – ou, para parafrasear um famoso filme de Hitchcock, a delação do “O Homem que Sabia Demais”. Sabia e continua sabendo, é claro: o conteúdo de seu depoimento haverá abalar o mundo político.
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Sua primeira revelação, contudo, será mais ou menos óbvia: “Isso que aconteceu no Brasil não foi só na Petrobrás. Foi geral”. Essa “ordenha” era a regra. Aconteceu na licitação dos portos, aeroportos, estradas, hidrelétricas. Qualquer obra de infraestrutura. Era a norma”.
Quer dizer que há um “petrolão” (assalto que subtraiu R$ 42 bilhões da Petrobrás) em cada grande estatal e em cada obra de vulto. Talvez por isso toda a infraestrutura do país esteja paralisada. A “arrecadação” sofreu um desmanche e está sob “auditoria”. O sistema caiu e ainda não há nada que o substitua.
Muito da revolta cibernética que hoje eletriza o país – há um verdadeiro “levante” nas redes sociais – resulta desse ambiente que tornava a corrupção uma regra e a virtude uma exceção.
O mau humor geral decorre da forma oblíqua de como a política demitiu a ética. Sobrevive no país um antigo conceito ibérico de que os “recursos públicos” pertencem “a quem chegar primeiro”. O dinheiro dos impostos seria um bem de propriedade difusa e incerta. “Se não é de uma pessoa em particular, não é de ninguém”, logo, “se eu pegar um pouquinho pra mim não será um mal tão irreparável assim”…
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Há políticos que se contentam com recompensas menos explícitas. Que mal há em indicar uma pessoa de sua confiança para presidir uma estatal?
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Não há democracia sem partidos. Uma reforma política que moralize o mandato parlamentar e garanta a sua integridade manteria no cenário apenas aqueles partidos que comprovassem seriedade política e existência eleitoral.
As delações continuam, dia a dia. Hoje o país sabe que 70% dos seus políticos, conhecidos ou não, “molharam” a mão no cofre imundo da Odebrecht ou da JBS.
O Brasil permanece num dramático atoleiro, um dilema mais do que shakespeariano: sem partidos e políticos não há democracia saudável. Mas com os partidos e políticos que temos, não somos uma democracia.
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