Enquanto o atual e viciado sistema eletivo não for modificado para valorizar o voto e admitir o “recall” – a revogação do mandato daquele que não o honrou – viveremos sempre num atraso perpétuo.

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O candidato, uma vez eleito, trai o eleitor – e passa a tratar exclusivamente dos seus próprios interesses. Um dia aprenderemos a exercer esse direito tão fundamental à democracia, que é o voto livre, secreto e universal. Com voto distrital e “recall”.

É um insulto ao eleitor brasileiro o absurdo favorecimento aos detentores de mandato. Os dois fundos partidários – somados, mais de R$ 4 bilhões – estão reservados aos candidatos à reeleição, segundo os “descritérios” dos caciques que controlam as siglas. Tudo está projetado para que a renovação parlamentar seja mínima – e que os atuais mandatos sejam “prorrogados”.

Homens de letras já tiveram opiniões desencontradas sobre as eleições brasileiras. O grande Euclides da Cunha “cunhou” certa vez:

– Eleições são mazorcas periódicas que a lei marca para favorecer apenas um lado, o dos escolhidos. Nossas eleições são “desorganizações”.

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E Gilberto Amado:

– Na República Velha as eleições eram falsas, mas a representação era verdadeira. As eleições não prestavam, mas os deputados e senadores eram da melhor qualidade.

***

Hoje é exatamente o contrário: as eleições chegaram a um processo digital aparentemente confiável. Os candidatos é que são uma vergonha.

As eleições eram, contudo, um grande aprendizado democrático, em que a primeira lição era a do princípio universal da alternância no poder. Na democracia há “altos” e “baixos”, não se conhece melhor sistema. Os seus defeitos, porém, devem ser periodicamente corrigidos, para evitar-se que a democracia se transforme na sua pior corruptela, a demagogia.

Não resta dúvida de que as eleições atuais estão “viciadas” quanto aos beneficiários das fontes de financiamento. E pioraram muito quanto à qualidade dos candidatos, mestres em fazer da política uma profissão.

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É, contudo, inegável que só a repetição “ad nauseam” das eleições aperfeiçoará usos e costumes políticos, os quais, um dia, voltarão a magnetizar os homens de bem da República. Na certeza de que a devoção do povo pela liberdade e pelo voto constituirão um justo tribunal para julgar, periodicamente, o cidadão e o dito “sistema”.

 

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