O que é um paradoxo? É o contrassenso, o absurdo, o disparate. Aquilo que se revela contrário ao senso comum – afirmação aparentemente contraditória, que, no entanto, é quase verdadeira. Dizer-se, por exemplo, que a Ilha é um inferno paradisíaco. Houve época em que todos os catarinenses diziam gostar de sua Ilha-Capital. Mas falavam muito mal dela. E até conspiravam contra a Ilha querendo destituí-la da sua condição de Capital do Estado.
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— Lá naquela Ilha ninguém trabalha. Só tem “mandrião”…
Certa “mandriíce” é inegável, especialmente a do poder público. Hoje, qualquer obra estruturante leva 10, 15 anos. Em meados do século 18, o governador Manoel Escudero queria levar a Capital para o lado continental. E em seu segundo mandato (1918-1922), Hercílio Luz chegou a estudar a transferência da Capital para o planalto de Lages, às margens do rio Caveiras, epicentro geográfico do Estado. Terra pra lá de boa e generosa. Mas, sem a capital na Ilha, o litoral e o hinterland jamais se integrariam, por paradoxal que possa parecer.
Foi o próprio governador-engenheiro quem entendeu a importância de consolidar a Ilha-Capital ao construir a ponte que levaria o seu nome posteridade afora. Iluminado pela luz do próprio sobrenome, Hercílio teve uma inspiração: construir em tempo recorde a ligação com o Estreito – e “sair para o abraço”…
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História de ferro: por dentro da obra de restauração da ponte Hercílio Luz
Roído por um câncer implacável, o engenheiro foi rápido: apesar do percalço com o primeiro agente financiador, Hercílio perseverou e assumiu o desafio: a ponte era “uma vez e meia” o orçamento anual do Estado.
Não sobreviveu, infelizmente, para assistir à inauguração de sua obra, mas deixou o exemplo para os governantes do tipo “bicho-preguiça”: fez em apenas quatro anos o que os seus pósteros ainda não fizeram em mais de 30: e ele não apenas “consertou” a ponte; construiu-a, dos fundamentos à pista, planejada para receber trens e trânsito pesado.
Hercílio era ao mesmo tempo um visionário e um pragmático. Não ficava só “em campanha”, distribuindo factoides. Construiu a ponte com o quarto maior vão livre do mundo, num lugar onde não havia mão de obra sequer para construir uma pinguela.
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